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domingo, 12 de agosto de 2018

A DISPENSAÇÃO VETEROTESTAMENTÁRIA COMO QUE ESTÁGIO DE INFÂNCIA


Daqui se faz claro em que sentido o Apóstolo disse que os judeus tinham sido pela tutelagem da lei conduzidos a Cristo antes que ele se exibisse na carne [Gl 3.24]. Confessa também que eles tinham sido filhos e herdeiros de Deus, os quais, porém, em razão de serem ainda crianças, tinham de ser mantidos sob a guarda de um tutor [Gl 4.1, 2]. Pois era próprio que, enquanto não se despontasse o Sol da Justiça, o fulgor da revelação não seria tão grande, nem tão grande a perspicácia em apreendê-la. Portanto, assim lhes dispensou o Senhor a luz de sua Palavra para que a vislumbrassem até então de longe e obscuramente. Por isso Paulo designa esta pobreza de compreensão pelo termo infância, querendo o Senhor que fosse exercitada por elementos deste mundo e pelas mesquinhas observâncias externas, como que por regras de disciplina infantil, até que Cristo se manifestasse, através de quem convinha que o conhecimento do povo fiel atingisse a maturidade [Ef 4.13].
Esta distinção assinalou-a o próprio Cristo quando dizia: “A lei e os profetas vigoraram até João; desde esse tempo anuncia-se o reino de Deus” [Lc 16.16]. O que a lei e os profetas deram a conhecer aos homens de seu tempo? De fato, conferiam o antegosto de sua sabedoria, que um dia se haveria de manifestar diafanamente, e a mostravam de antemão a brilhar distante. Quando, porém, Cristo pode ser apontado com o dedo, manifesto está o reino de Deus, pois que nele foram postos à mostra todos os tesouros da sabedoria e da inteligência [Cl 2.3], pelos quais se penetra até quase aos próprios recônditos do céu.

João Calvino