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domingo, 12 de agosto de 2018

A ESPERANÇA DA VIDA FUTURA NO ENSINO DOS PROFETAS


Se porventura eu descer aos profetas posteriores, então, na verdade, nos será possível divagar livremente, como em campo próprio. Ora, se em Davi a vitória não foi difícil, em Jó e Samuel será muito mais fácil aqui. Pois o Senhor susteve esta economia e esta ordem na administração do pacto de sua misericórdia, de sorte que, quanto mais com o correr do tempo se aproximava o dia da plena revelação, com tanto maior clareza o quis anunciar.  Assim, no início, quando a Adão foi dada a primeira promessa de salvação [Gn 3.15], como que brilharam tênues centelhas; depois, feito suplemento, maior amplitude de luz começou a difundir-se, luz que, a seguir, despontou mais e mais e projetou seu fulgor mais largamente, até que, enfim, dissipadas todas as nuvens, o Sol da Justiça, Cristo, iluminou, em toda a plenitude, todo o orbe da terra. Logo, não é de temer-se que, se para comprovar nossa causa busquemos os sufrágios dos profetas, esses sufrágiosnos falhassem. Entretanto, uma vez que vejo ter que subsistir ingente floresta de material, em que se faz necessário deter-nos muito mais demoradamente do que permita o plano programado, pois seria necessário longo volume, e, ao mesmo tempo, julgo haver eu, mercê das coisas ditas previamente, distendido até mesmo ao leitor pouco perspicaz um caminho pelo qual possa avançar em marcha desimpedida, abster-me-ei de prolixidade inteiramente desnecessária no presente; contudo, avisados os leitores antecipadamente, a que se lembrem de abrir para si o caminho com esta chave que lhes pusemos anteriormente na mão. Isto é, quantas vezes celebram os profetas a bem-aventurança do povo fiel, da qual na presente vida mal se percebem sequer mínimos vestígios, recorram eles a esta distinção: a fim de que melhor enaltecessem a bondade de Deus, os profetas a apresentaram ao povo através de benefícios temporários, como uma espécie de figuras; mas, ao mesmo tempo, quiseram com estas figuras levantar os entendimentos acima da terra, para além dos elementos deste mundo corruptível, e incitá-los a meditarem por necessidade na bem-aventurança da vida futura e espiritual.

João Calvino