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quarta-feira, 1 de agosto de 2018

A IMPORTÂNCIA DO SÁBADO E SEU SENTIDO ESPIRITUAL


Contudo, somos ensinados em muitas passagens que essa prefiguração do descanso espiritual teve o lugar principal no sábado. Com efeito, de quase nenhum mandamento mais severamente o Senhor exige obediência. Quando, nos profetas, quer dar a entender que toda a religião está subvertida, queixa-se Deus de que seus sábados foram profanados, violados, não observados, não santificados, como se, posta de lado esta deferência, nada mais restasse em que pudesse ser honrado [Is 56.2; Jr 17.21-23, 27; Ez 20.12, 13; 22.8; 23.38]. A observância cumula-lhe os mais sublimados encômios, donde também os fiéis, entre os demais oráculos, estimavam sobremaneira a revelação do sábado. Pois assim falam os levitas em Neemias [9.14], na assembléia solene: “Deste a conhecer a nossos pais teu santo sábado; mandamentos, e cerimônias, e a lei lhes deste pela mão de Moisés.” Vês como o sábado é tido de singular dignidade entre todos os mandamentos da lei. Estes preceitos todos servem para exalçar a dignidade do mistério, que é mui esplendidamente expresso por Moisés e Ezequiel. Assim tens no Êxodo [31.13, 14, 16, 17a]: “Vede que guardeis meu sábado, porque é um sinal entre mim e vós, em vossas gerações, para que saibais que Eu sou o Senhor, que vos santifico. Guardai o sábado, pois ele é santo para vós.” “Guardem o sábado os filhos de Israel, e o celebrem em suas gerações; é um pacto sempiterno entre mim e os filhos de Israel, e um sinal perpétuo.” Ora, ainda mais destacadamente o reitera Ezequiel, cuja suma, entretanto, é esta: que o sábado fosse por sinal pelo qual Israel pudesse conhecer que Deus lhe era o santificador [Ez 20.12]. Se nossa santificação se patenteia na mortificação da própria vontade, então mui adequada correspondência se oferece do sinal externo com a própria realidade interior. Importa que nos desativemos totalmente, para que Deus opere em nós, abrindo mão de nossa vontade, resignando o coração, de seus apetites abdicando toda a carne. Enfim, impõe-se abster-nos de todas as atividades de nosso próprio entendimento, para que, tendo a Deus operando em nós [Hb 13.21], nele descansemos, como também o ensina o Apóstolo [Hb 4.19].

João Calvino