A observância de um
dia dentre cada sete representava aos judeus esta cessação perpétua de
atividades, a qual, para que fosse cultivada com religiosidade maior, o Senhor
a recomendou com seu próprio exemplo. Pois é de não somenos valia para aquecer
o zelo do homem que saiba estar trilhando à imitação do Criador. Se alguém
procura algum sentido secreto no número sete, uma vez que na Escritura este é o
número da perfeição, não sem causa foi ele escolhido para expressar
perpetuidade. Ao que também confirma isto: que Moisés põe termo à descrição da
sucessãode dias e noites com o dia em que narra haver o Senhor descansado de
suas obras. Pode-se também apresentar outro significado provável do número,
isto é, que o Senhor assim indicou que o sábado nunca haverá de ser absoluto
até que tenha chegado o último dia. Pois aqui começamos nosso bem-aventurado
descanso nele, descanso em que fazemos diariamente novos progressos. Mas,
porque ainda incessante é a luta com a carne, não se haverá de consumar antes
que se cumpra aquele vaticínio de Isaías [66.23], enquanto a lua nova for
continuada por lua nova, sábado por sábado, até quando, na verdade, Deus vier a
ser tudo em todas as coisas [1Co 15.28]. Portanto, pode parecer que, mediante o
sétimo dia, o Senhortenha delineado a seu povo a perfeição futura de seu sábado
no Último Dia, a fim de que, pela incessante meditação do sábado, a esta
perfeição aspirasse por toda a vida
João Calvino