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domingo, 12 de agosto de 2018

PARA QUE DESEMPENHASSE A FUNÇÃO DE MEDIADOR, NECESSÁRIO FOI QUE CRISTO SE FIZESSE HOMEM

A INSUFICIÊNCIA MEDIATORIAL DO HOMEM E A NATUREZA TEANTRÓPICA DO VERDADEIRO MEDIADOR

Era extremamente necessário que aquele que havia de ser nosso Mediador fosse verdasdeiro Deus e verdadeiro homem. Se alguém indaga sobre a necessidade disto, de fato não houve uma necessidade simples ou, como geralmente dizem, absoluta. Procedeu, antes, do decreto celeste, do qual dependia a salvação dos homens. Mas, o Pai clementíssimo decretou o que nos era o melhor. Ora, uma vez que nossas iniqüidades, como se fosse uma nuvem interposta entre nós e ele, nos alienaram inteiramente do reino dos céus, ninguém podia ser o intermediário da paz a ser restaurada, senão aquele que pudesse achegar à sua presença. Quem, no entanto, haveria de achegar-se a ele? Qualquer dos filhos de Adão? Na verdade todos, com o próprio pai, se apavoravam ante a visão de Deus [Gn 3.8]. Algum dos anjos? Ora, até mesmo eles tinham necessidade de um Cabeça, através de cujo vínculo estivessem firme e indissoluvelmente ligados a seu Deus. E então? A situação, certamente, era irremediável, a não ser que até nós descesse a própria majestade de Deus, já que não estava a nosso alcance subir até ele. Daí se fazia necessário que o Filho de Deus viesse a ser nosso Emanuel, isto é, “Deusconosco” [Is 7.14; Mt 1.23], de tal maneira que sua divindade e a natureza humana fossem unidas. De outra sorte, nem lhes seria bastante próxima a contigüidade, nem bastante firme a afinidade, donde nos resultasse a esperança de Deus habitar conosco. Infinitamente grande era a discrepância entre nossa sordidez e a suprema pureza de Deus! Ainda que o homem permanecesse livre de toda mancha, sua condição, entretanto, era abjeta demais para que se achegasse a Deus sem Mediador. Portanto, que poderia o homem, por sua ruína mortal abismado na morte e nos infernos, contaminado por tantas máculas, a tresandar em sua corrupção, enfim, chafurdado em toda maldição? Logo, querendo apresentar Cristo como o Mediador, não sem causa relembra Paulo expressamente ser ele homem. Diz ele: “Um é o Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” [1Tm 2.5]. Poderia tê-lo chamado Deus; poderia até mesmo omitir o termo homem, como fizera com a palavra Deus. Mas, porque o Espírito, falando por sua boca, conhecia nossa fraqueza, para que se desse no momento oportuno, fez uso de um remédio mais apropriado, exibindo a público o Filho de Deus familiarmente como um dentre nós. E assim, para que ninguém se atormente investigando onde se poderia achar esse Mediador, ou de que forma se poderia chegar a ele, ao denominá-lo de homem nos dá a entender que ele está perto de nós, já que é de nossa própria carne.223 Certamente refere ele aqui o mesmo que, em muitas palavras, se explica em outro lugar: não termos nós um Sumo Sacerdote que não possa sentir conosco nossas fraquezas, já que, só com a exceção do pecado, em tudo foi ele tentado à nossa maneira [Hb 4.15].

João Calvino