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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

A AMBOS, BISPOS E PRESBÍTEROS, O OFÍCIO NECESSÁRIO ERAM A PREGAÇÃO DA PALAVRA E A ADMINISTRAÇÃO DOS SACRAMENTOS

Quanto, porém, diz respeito ao ofício de que estamos agora a tratar, tanto ao bispo, quanto aos presbíteros, tinham que devotar-se à ministração da Palavra e dos Sacramentos. Ora, somente em Alexandria, porquanto Ário havia aí conturbado a Igreja, fora resolvido que o presbítero não pregasse ao povo, como diz Sócrates, no livro IX da História Tripartite [de Cassiodoro]. No entanto, Jerônimo não dissimula que isso lhe desagradava.34 Certamente seria coisa monstruosa que alguém se vangloriasse de ser bispo e não cumprisse com as obrigações de seu cargo. Portanto, tal foi a severidade daqueles tempos, que todos os ministros se sentiam compelidos a cumprir o ofício como o Senhor requeria deles. Não estou me referindo somente ao costume de uma única época, porque, na verdade, nem no tempo de Gregório, quando a Igreja já quase entrara em colapso (certamente se degenerara muito da antiga pureza), não foi tolerável que algum bispo se abstivesse das pregações. “O sacerdote”, diz ele, em algum lugar,35 “morre, se dele não se ouvir algum som, porque reclama contra si a ira do Juiz oculto, se vagueia sem o soar da pregação.” E, em outro lugar: “Quando Paulo testifica [At 20.26] estar limpo do sangue de todos, nesta afirmação somos indiciados, somos constringidos, somos evidenciados como réus, nós que somos chamados sacerdotes, que sobre essas coisas más que pessoalmente as temos acrescentamos também mortes alheias, porque matamos aos mornos e silenciosos, quando os vemos avançando diariamente para a morte.” Chama silencioso a si próprio e aos outros por serem menos diligentes na obra do que conviria. Aliás, quando não perdoa a esses que exerciam o ofício pela metade, que pensas deveria ele fazer, se alguém tivesse deixado totalmente de fazê-lo? Portanto, isso prevaleceu na Igreja por tanto tempo, que as funções primárias do bispo vieram a ser a nutrição do povo com a Palavra de Deus, ou, seja, edificar a Igreja pública e particularmente com sã doutrina.

João Calvino