Aqueles que presidem ao governo da Igreja, segundo a instituição de Cristo, são
chamados por Paulo [Ef 4.11], primeiro apóstolos; em seguida, profetas; terceiro,
evangelistas; quarto, pastores; finalmente, mestres; dos quais apenas os dois últimos
têm função ordinária na Igreja, os outros três o Senhor suscitou no início de seu
reino, e às vezes ainda suscita, conforme convém à necessidade dos tempos.
Qual é a função apostólica se faz evidente à luz deste mandado: “Ide, pregai o
evangelho a toda criatura” [Mc 16.15]. Não se atribuem seus limites definidos; ao
contrário, os envia para que conduza o mundo inteiro à obediência de Cristo, para
que, espargindo o evangelho por toda parte que possam, em todos os lugares erijam
seu reino. Por isso mesmo Paulo, como quisesse provar seu apostolado, recorda que
não ganhou para Cristo uma única cidade, senão que propagava o evangelho ampla
e extensivamente; nem pôs as mãos em fundamentos alheios, senão que plantava
igrejas onde ainda não se ouvira o nome do Senhor [Rm 15.20]. Portanto, os apóstolos
foram enviados para que reconduzissem o mundo inteiro da alienação à verdadeira
obediência de Deus; e mediante a pregação do evangelho, implantassem por
toda parte o reino; ou, se preferes, para, como os primeiros construtores da Igreja,
lançassem seus fundamentos em todo o mundo [1Co 3.10].
Ele chama profetas não a quaisquer intérpretes da vontade divina, mas àqueles
que exceliam em singular revelação, como agora nenhum subsiste, ou são menos
evidentes. Por evangelistas entendo aqueles que, embora fossem menores que os
apóstolos em dignidade, entretanto mais perto estavam em seu ofício, e até às vezes
se assemelhavam a eles, como, por exemplo, Lucas, Timóteo, Tito e demais como
eles; e talvez também os setenta discípulos que Cristo designou em segundo lugar
após os apóstolos [Lc 10.1].
Segundo esta interpretação, a qual me parece coerente tanto com as palavras quanto com a opinião de Paulo, essas três funções não foram por isso instituídas na
igreja para que fossem perpétuas, mas apenas para esse tempo em que deveriam ser
implantadas igrejas onde nenhuma havia antes existido, ou certamente tinham de
ser transpostas de Moisés para Cristo. Embora eu não negue que depois houve também
apóstolos, ou pelo menos evangelistas no lugar deles, Deus às vezes os suscitava,
como ocorreu em nosso tempo. Pois por meio deles se fez necessário que reconduzissem,
da defecção do Anticristo, de volta a Igreja. Contudo, ao próprio ofício
chamo extraordinário, porquanto ele não tem lugar nas igrejas regularmente constituídas.
Seguem-se pastores e mestres, dos quais a Igreja jamais pode prescindir, entre
os quais penso haver esta distinção: que os mestres não presidem a disciplina, nem
a administração dos sacramentos, nem as admoestações ou exortações, mas apenas
a interpretação da Escritura, para que entre os fiéis se retenha pura e sã a doutrina. O
ofício pastoral, entretanto, contém em si todas estas funções.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32