Esta é a mesma causa de que Cristo faz a exceção há pouco referida, onde diz
que “ninguém pereceu, exceto o filho da perdição” [Jo 17.12]. E de fato é uma
expressão imprópria, todavia, muito longe de obscura, pois ele não era contado entre
as ovelhas de Cristo porque o era realmente, mas porque ocupava seu lugar. Que
de fato o Senhor declara em outro lugar que ele foi escolhido para si, com os apóstolos,
isto se refere somente ao ministério. “Não vos escolhi”, diz ele, “em número
de doze? Contudo, um dentre vós é um diabo” [Jo 6.70]. Isto é, o havia escolhido
para o cargo de Apóstolo. Quando, porém, fala da eleição para a salvação, o mantém
longe do número dos eleitos: “Não falo a respeito de todos; eu sei a quem escolhi”
[Jo 13.18]. Se alguém confunde o termo eleição em ambas essas modalidades de
passagens, se enleará miseravelmente; se as distingue, nada é mais livre de embaraço.
Por isso, Gregório se expressa péssima e perniciosamente, quando ensina que
temos consciência apenas de nossa vocação, mas que somos incertos de nossa eleição,
donde a todos exorta ao temor e tremor, usando ainda deste argumento porque,
ainda que saibamos o que somos hoje, entretanto, o que haveremos de ser, nos é
desconhecido. Mas com sua maneira de proceder dá a entender bem claramente
quanto se enganou nesta matéria. Porque fazia a eleição depender dos méritos das
obras, tinha motivo mais que suficiente para abater os ânimos; firmá-los não podia,
porque não os transferia de si próprio para a confiança da bondade divina. Daqui os
fiéis podem ter algum sabor daquilo que já discutimos no início: a predestinação, se
for entendida corretamente, não produz a convulsão da fé, mas, antes, sua melhor
confirmação. Entretanto, tampouco nego que às vezes o Espírito acomoda a linguagem
à medida de nosso senso, como quando diz: “No conselho secreto de meu povo
não estarão e na lista de meus servos não serão escritos” [Ez 13.9]. Como se Deus
começasse a inscrever no livro da vida aqueles a quem conta no número dos seus,
quando, no entanto, sabemos que o próprio Cristo o atesta [Lc 10.20], dizendo que
os nomes dos filhos de Deus foram escritos no livro da vida desde o início [Fp 4.3].
Com estas palavras, porém, simplesmente se assinala a exclusão daqueles que pareceram
principais entre os eleitos, como lemos no Salmo: “Sejam apagados do livro
da vida e com os justos não sejam inscritos” [Sl 69.28].
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32