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domingo, 7 de outubro de 2018

TAMPOUCO O CASO DE JUDAS MILITA CONTRA A CERTEZA DA ELEIÇÃO, O QUAL FOI ELEITO PARA O APOSTOLADO, PORÉM NÃO PARA A SALVAÇÃO

Esta é a mesma causa de que Cristo faz a exceção há pouco referida, onde diz que “ninguém pereceu, exceto o filho da perdição” [Jo 17.12]. E de fato é uma expressão imprópria, todavia, muito longe de obscura, pois ele não era contado entre as ovelhas de Cristo porque o era realmente, mas porque ocupava seu lugar. Que de fato o Senhor declara em outro lugar que ele foi escolhido para si, com os apóstolos, isto se refere somente ao ministério. “Não vos escolhi”, diz ele, “em número de doze? Contudo, um dentre vós é um diabo” [Jo 6.70]. Isto é, o havia escolhido para o cargo de Apóstolo. Quando, porém, fala da eleição para a salvação, o mantém longe do número dos eleitos: “Não falo a respeito de todos; eu sei a quem escolhi” [Jo 13.18]. Se alguém confunde o termo eleição em ambas essas modalidades de passagens, se enleará miseravelmente; se as distingue, nada é mais livre de embaraço. Por isso, Gregório se expressa péssima e perniciosamente, quando ensina que temos consciência apenas de nossa vocação, mas que somos incertos de nossa eleição, donde a todos exorta ao temor e tremor, usando ainda deste argumento porque, ainda que saibamos o que somos hoje, entretanto, o que haveremos de ser, nos é desconhecido. Mas com sua maneira de proceder dá a entender bem claramente quanto se enganou nesta matéria. Porque fazia a eleição depender dos méritos das obras, tinha motivo mais que suficiente para abater os ânimos; firmá-los não podia, porque não os transferia de si próprio para a confiança da bondade divina. Daqui os fiéis podem ter algum sabor daquilo que já discutimos no início: a predestinação, se for entendida corretamente, não produz a convulsão da fé, mas, antes, sua melhor confirmação. Entretanto, tampouco nego que às vezes o Espírito acomoda a linguagem à medida de nosso senso, como quando diz: “No conselho secreto de meu povo não estarão e na lista de meus servos não serão escritos” [Ez 13.9]. Como se Deus começasse a inscrever no livro da vida aqueles a quem conta no número dos seus, quando, no entanto, sabemos que o próprio Cristo o atesta [Lc 10.20], dizendo que os nomes dos filhos de Deus foram escritos no livro da vida desde o início [Fp 4.3]. Com estas palavras, porém, simplesmente se assinala a exclusão daqueles que pareceram principais entre os eleitos, como lemos no Salmo: “Sejam apagados do livro da vida e com os justos não sejam inscritos” [Sl 69.28].

João Calvino