Mas, acontece diariamente que aqueles que pareciam ser de Cristo, de novo
dele decaiam e se arrojem à perdição. Com efeito, nessa mesma passagem onde afirma que ninguém pereceu dentre aqueles que lhe foram dados pelo Pai, contudo,
excetua o filho da perdição [Jo 17.12]. Certamente que isto é verdadeiro, mas igualmente
verdadeiro é também que os tais nunca foram unidos a Cristo com aquela
confiança de coração mercê da qual afirmo que a certeza da eleição se nos faz firme.
“Saíram de nós”, diz João, “mas não eram de nós, pois se fossem de nós, ficariam
conosco” [1Jo 2.19]. Tampouco nego que tenham com os eleitos sinais afins de
vocação, mas de modo algum lhes concedo que tenham esse arrimo infalível da
eleição o qual prescrevo que os fiéis busquem na palavra do evangelho. Portanto,
que semelhantes exemplos não nos alterem nem nos impeçam de descansar confiados
na promessa do Senhor, quando diz que o Pai lhe deu a todos aqueles que com
verdadeira fé o recebem, dos quais nem um sequer perecerá por ser ele seu guardião
e pastor [Jo 3.16; 6.39]. Quanto a Judas, dele falaremos logo em seguida.
Paulo não dissuade aos cristãos da mera segurança, mas da supina e desmedida
segurança da carne, a qual arrasta consigo a altivez, a arrogância, o desprezo dos
outros, sufoca a humildade e reverência de Deus e induz o esquecimento da graça
recebida. Ora, Paulo está se dirigindo aos gentios, a quem ensina que por isso não
há que aviltar, orgulhosa e desumanamente, os judeus, os quais, deserdados, aqueles
assumiram seu lugar. Também requer temor, não aquele mercê do qual vacilem
consternados, mas aquele que, induzindo-nos a contemplar humildemente a graça
de Deus, nada diminua de sua confiança, como foi dito em outro lugar. Aduz que
não está falando a indivíduos, um a um, mas, em termos gerais, às próprias facções.
Pois, como a Igreja estivesse dividida em duas partes e a emulação gerasse a discórdia,
Paulo adverte aos gentios de que, uma vez que foram postos no lugar do povo
especial e santo, isso lhes deveria ser causa de temor e modéstia. Com efeito, entre
esses, muitos eram presumidos, cuja vã jactância foi útil reprimir. Vimos também
em outro lugar que nossa esperança se estende para o tempo vindouro, até mesmo
para além da morte, e que não há nada mais contrário à sua natureza e condição do
que estar inquietos e apreensivos sem saber o que doravante será de nós.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32