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domingo, 7 de outubro de 2018

O VERDADEIRO ELEITO, CUJA COMUNHÃO COM CRISTO NÃO É MERA APARÊNCIA, JAMAIS DECAIRÁ DE SUA ELEIÇÃO, PERSEVERANDO, COM REAL HUMILDADE E PIEDOSO TEMOR, ATÉ O FIM

Mas, acontece diariamente que aqueles que pareciam ser de Cristo, de novo dele decaiam e se arrojem à perdição. Com efeito, nessa mesma passagem onde afirma que ninguém pereceu dentre aqueles que lhe foram dados pelo Pai, contudo, excetua o filho da perdição [Jo 17.12]. Certamente que isto é verdadeiro, mas igualmente verdadeiro é também que os tais nunca foram unidos a Cristo com aquela confiança de coração mercê da qual afirmo que a certeza da eleição se nos faz firme. “Saíram de nós”, diz João, “mas não eram de nós, pois se fossem de nós, ficariam conosco” [1Jo 2.19]. Tampouco nego que tenham com os eleitos sinais afins de vocação, mas de modo algum lhes concedo que tenham esse arrimo infalível da eleição o qual prescrevo que os fiéis busquem na palavra do evangelho. Portanto, que semelhantes exemplos não nos alterem nem nos impeçam de descansar confiados na promessa do Senhor, quando diz que o Pai lhe deu a todos aqueles que com verdadeira fé o recebem, dos quais nem um sequer perecerá por ser ele seu guardião e pastor [Jo 3.16; 6.39]. Quanto a Judas, dele falaremos logo em seguida. Paulo não dissuade aos cristãos da mera segurança, mas da supina e desmedida segurança da carne, a qual arrasta consigo a altivez, a arrogância, o desprezo dos outros, sufoca a humildade e reverência de Deus e induz o esquecimento da graça recebida. Ora, Paulo está se dirigindo aos gentios, a quem ensina que por isso não há que aviltar, orgulhosa e desumanamente, os judeus, os quais, deserdados, aqueles assumiram seu lugar. Também requer temor, não aquele mercê do qual vacilem consternados, mas aquele que, induzindo-nos a contemplar humildemente a graça de Deus, nada diminua de sua confiança, como foi dito em outro lugar. Aduz que não está falando a indivíduos, um a um, mas, em termos gerais, às próprias facções. Pois, como a Igreja estivesse dividida em duas partes e a emulação gerasse a discórdia, Paulo adverte aos gentios de que, uma vez que foram postos no lugar do povo especial e santo, isso lhes deveria ser causa de temor e modéstia. Com efeito, entre esses, muitos eram presumidos, cuja vã jactância foi útil reprimir. Vimos também em outro lugar que nossa esperança se estende para o tempo vindouro, até mesmo para além da morte, e que não há nada mais contrário à sua natureza e condição do que estar inquietos e apreensivos sem saber o que doravante será de nós.

João Calvino