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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

O MODELO EM AGOSTINHO DE COMO PROCLAMAR-SE BEM A PREDESTINAÇÃO

E, contudo, como teve esse santo varão empenho singular de edificação, de tal forma ele modera a maneira de ensinar a verdade, que sabiamente se guarda até onde possível de causar escândalo. Ora, ele lembra que as coisas que com verdade se dizem podem, ao mesmo tempo, ser ditas de maneira conveniente. Se alguém assim se dirija ao vulgo: “Se não credes, isso acontece porque já fostes divinamente destinados à perdição”, esse não só fomenta a negligência, mas também encoraja a prática do mal. Se alguém também estende para o tempo futuro a afirmação de que os que ouvem não crêem, porquanto foram condenados, será imprecação mais do que ensino. Agostinho quer que essa classe de pessoas, e com toda razão, não tem nada a ver com a Igreja, visto que carecem do dom de ensinar e atemorizam as pessoas simples ignorantes. Em outro lugar, ele contende, certamente com razão, que se deve manter “que o homem então aproveita a correção quando Aquele que faz aproveitar, mesmo sem correção, se compadece e ajuda aqueles a quem assim o quis. Mas, por que ajuda assim a este, e de outro modo àquele? Longe de nós dizermos que o juízo é do barro, não do oleiro!” Igualmente, em seguida: “Quando os homens, mediante a correção, voltam ao caminho da justiça, quem no coração lhes opera a salvação, senão Aquele que dá o crescimento, sem importar quem planta ou rega [1Co 3.6-8], a quem, quando o quer salvar, nenhum livre-arbítrio humano resiste? Portanto, não se pode duvidar que a vontade humana não possa resistir à vontade de Deus, “que fez tudo quanto quis no céu e na terra” [Sl 135.6] e que fez também as coisas que haverão de existir [Is 45.11], de tal maneira que ele não faça o que quer, quando da própria vontade dos homens ele faz o que quer.” Ainda: “Quando quer conduzir a si os homens, porventura os ata com liames corporais? Age interiormente, sustêm-lhes interiormente o coração, move-lhes interiormente o coração, e com sua vontade que neles operou, os atrai.” Mas, de modo nenhumse deve omitir o que adiciona logo a seguir: “Porque não sabemos quem pertença ao número dos predestinados, ou não pertença, assim nos convêm tratar a todos, querendo que venham a ser salvos. Assim procuraremos fazer com que todos sejam participantes de nossa paz. Mas, nossa paz repousará somente sobre os filhos da paz [Mt 10.13; Lc 10.6]. Portanto, quanto a nós concerne, deverá ser aplicada a todos, à semelhança de um remédio, correção salutar e severa, para que eles mesmos não pereçam, ou não levem outros a perder-se. A Deus, porém, caberá fazê-la eficaz àqueles a quem conheceu de antemão e predestinou.”

João Calvino