Total de visualizações de página

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

A IGREJA, LONGE DE SER PERFEITA, SE FUNDAMENTA E SE SUSTENTA NO CONSTANTE PERDÃO DOS PECADOS

Seu rigorismo e arrogância avançam ainda mais, porque não reconhecem Igreja se não for pura de todas e quaisquer manchas mínimas; de fato, exasperam-se com os mestres probos, porque, ao exortarem os fiéis ao progresso, ensinam que em toda a vida gemem sob o fardo das imperfeições e lutam por alcançar o perdão. Objetam, pois, que desse modo os fiéis são distanciados da perfeição. Certamente que confesso que se deve insistir na perfeição, pela qual se deve laborar não lenta ou displicentemente, e muito menos cessar a labuta. Afirmo, porém, ser diabólica invenção de sua confiança imbuir os ânimos enquanto estamos ainda no curso de nossa peregrinação terrena. Assim sendo, no Credo a remissão dos pecados se anexa apropriadamente à Igreja, pois esta não a conseguem senão somente os cidadãos e seus familiares, como se lê no Profeta [Is 33.24]. Portanto, é preciso edificar antes esta Jerusalém celestial, na qual tenha, então, lugar esta indulgência de Deus, para que, a quem quer que seja ela concedida, também sua iniqüidade seja expurgada. Digo, porém, que primeiro importa que a Igreja seja edificada, não porque seja possível existir alguma Igreja sem remissão dos pecados, mas porque o Senhor não prometeu sua misericórdia senão na comunhão dos santos. Portanto, o primeiro acesso à Igreja e reino de Deus é a remissão dos pecados, sem a qual nada há de pacto ou conjunção entre nós e Deus. Pois Deus assim fala através do Profeta: “Naquele dia vos firmarei um pacto com o animal do campo, com a ave do céu e o réptil da terra. Da terra esmigalharei o arco, a espada e a guerra, e sem terror farei que os homens durmam. Desposar-vos-ei para mim para sempre; sim, desposar-vos-ei em justiça, em juízo, em misericórdia e compaixões” [Os 2.18, 19]. Vemos como, mediante sua misericórdia, o Senhor nos reconcilia consigo. Assim, também em outro lugar, quando prediz que o povo que espalhara em sua ira seria novamente congregado: “E os purificarei de toda sua maldade com que pecaram contra mim” [Jr 33.8]. Portanto, somos iniciados à sociedade da Igreja pelo sinal da lavagem, para que sejamos ensinados que o ingresso à família de Deus não se concretiza a não ser que, por sua bondade, primeiro nossa sordidez seja purificada.

João Calvino