Objetam ainda que Paulo censura severamente aos coríntios, porque em seu
convívio toleravam um homem escandaloso [1Co 5.1,2], e em seguida estabelece
um princípio geral, no qual declara que não é lícito sequer comer pão com um
homem de vida dissoluta [1Co 5.11]. Aqui exclamam: “Se não é permissível comer
com ele o pão comum, como é permissível comer o pão do Senhor?” Certamente
reconheço ser grande aviltamento se entre os filhos de Deus tenham lugar os porcos
e os cães. Muito mais ainda é que entre eles seja prostituído o sacrossanto corpo de Cristo. De fato, se as igrejas não forem bem reguladas, passarão a tolerar em seu
seio aos celerados, nem admitirão àquele sagrado repasto ao mesmo tempo dignos e
indignos, indiscriminadamente. Mas, dado que nem sempre os pastores vigiam com
a devida diligência, e às vezes são mais gentis e suaves do que conviria, o que talvez
os impede de exercer tanta severidade como desejariam, o fato é que nem sempre os
maus são expulsos da companhia dos bons.10 Confesso ser isto uma falha, nem a
quero atenuar, quando Paulo acremente a repreende nos coríntios. Todavia, ainda
quando a Igreja seja remissa em seu dever, nem por isso será direito de cada um em
particular assumir a si pessoalmente a decisão de separar-se.
Evidentemente, não nego que seja dever do homem piedoso subtrair-se a todo
relacionamento íntimo ou pessoal dos réprobos, não se imiscuindo com eles em
nenhum relacionamento voluntário; uma coisa, porém, é evitar o convívio dos maus;
outra, por aversão a eles, renunciar à comunhão da Igreja. Que, porém, pensam ser
um sacrilégio participar com eles do pão do Senhor, nisso muito mais rígidos são do
que Paulo. Ora, quando ele nos exorta à santa e pura participação, não requer que
um examine ao outro, ou cada um examine a igreja toda; ao contrário, que cada um
examine a si mesmo [1Co 11.28]. Se comungar com o indigno fosse ilícito, certamente
Paulo ordenaria que olhássemos em volta para vermos se porventura haveria
alguém na multidão de cuja impureza seríamos poluídos. Ora, quando ele só requer
de cada um a prova de si próprio, evidencia que de modo algum somos prejudicados
se algum indigno se imiscuir conosco. Nem outra coisa ele tem em vista quando
acrescenta depois: “Quem come indignamente, come e bebe juízo para si” [1Co
11.29]. Paulo não diz para outros; mas, para si. E com razão, pois não deve ser
posto no arbítrio de cada um a quem deva receber e quem deva repelir. Este reconhecimento,
que não pode ser exercido sem legítima ordem, é de toda a Igreja,
como depois se haverá de dizer mais amplamente. Portanto, será injusto ser alguém,
pessoalmente, poluído pela indignidade de outrem, a quem nem pode, nem deve,
barrar o acesso.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32