Temos assim quais os ministérios que foram temporários no governo da Igreja,
e quais foram instituídos para durarem perpetuamente. Ora, se agruparmos os evangelistas
com os apóstolos, de certo modo nos restarão dois pares que correspondem
entre si. Pois, a semelhança que nossos mestres têm com os antigos profetas, os
apóstolos a têm com os pastores. O ofício profético foi mais eminente em razão do
dom singular de revelação pelo qual os profetas exceliam, mas o ofício dos mestres
tem natureza quase semelhante e um exercício inteiramente o mesmo. Da mesma
forma também aqueles doze a quem o Senhor escolheu para que proclamassem ao
mundo a nova pregação do evangelho tiveram precedência sobre os demais em ordem
e dignidade. No entanto, o sentido e a etimologia do termo podem chamar
corretamente apóstolos a todos os ministros eclesiásticos, visto que são todos enviados
pelo Senhor e são seus mensageiros. Contudo, visto que importava muitíssimo
que se tenha seguro conhecimento acerca da missão desses que apresentariam coisa
nova e inaudita, foi conveniente que esses doze, a cujo número mais tarde se acrescentou
Paulo [At 9.15; Gl 1.1], sejam mencionados acima dos outros por um título
especial. Na verdade, o próprio Paulo, em alguma parte [Rm 16.7], atribuiu este
título a Adrônico e Júnias, a quem diz que eram insignes entre os apóstolos; quando,
porém, quer falar acuradamente, o atribui exclusivamente àquela primeira ordem. E
este é o uso comum da Escritura. Os pastores, entretanto, exceto que regem, um a
um, determinadas igrejas a si designadas, mantêm com os apóstolos o mesmo cargo.
Além disso, de que natureza seja esse encargo ainda ouviremos mais claramente.
João Calvino