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terça-feira, 30 de outubro de 2018

OS CLÉRIGOS, ESTAGIÁRIOS EM PREPARO E ADESTRAMENTO PARA O MINISTÉRIO DA IGREJA: OSTIÁRIOS, ACÓLITOS, LEITORES, SUBDIÁCONOS, EM PROGRESSÃO

Estes que acabamos de enumerar foram os ministérios da Igreja antiga. Os outros, dos quais os escritores eclesiásticos fazem menção, foram mais exercícios e como que preparações do que funções específicas. Ora, aqueles santos varões, para que deixassem após si um viveiro à Igreja, recebiam a seu cuidado e tutela, e também instrução, jovens que, com o consentimento e autoridade do país, se alistavam na milícia espiritual, e assim os formavam desde tenra idade para que não viessem a exercer o ofício despreparados e inexperientes. Todos, porém, que eram instruídos em aprendizados deste molde eram chamados pelo termo geral clérigo. Certamente que eu preferiria que lhes fosse dado outro nome mais próprio, pois este designativo nasceu de um erro, ou certamente de uma noção falsa do que Pedro proclamara como o clero, isto é, a herança do Senhor, a Igreja inteira [1Pe 5.3]. Entretanto, a instituição mesma foi sobremodo santa e salutar, porquanto os que se quisessem consagrar à Igreja a si mesmos e seu serviço, fossem assim educados sob o cuidado do bispo, de sorte que ninguém ministrasse à Igreja a não ser previamente bem preparado e quem desde a primeira adolescência não só houvesse embebido a santa doutrina, mas também, mercê de disciplina mais severa, houvesse se revestido de um certo hábito de gravidade e de vida mais santa; igualmente houvesse sido alheio a cuidados profanos e acostumado aos cuidados e ocupações espirituais. Contudo, da mesma forma que os recrutas do exército são adestrados para combate verdadeiro e sério mediante lutas simuladas, assim havia certos rudimentos com os quais eles eram exercitados no clericato, antes que fossem promovidos às funções propriamente ditas. Portanto, primeiro lhes confiavam o cuidado de abrir e fechar o templo, e os chamavam ostiários; depois os chamavam acólitos, como assistissem ao bispo nos encargos domésticos e o acompanhassem de contínuo, primeiro por uma questão de honorabilidade, então para que alguma suspeita não viesse sorrateiramente; em seguida, para que se fizessem gradualmente conhecidos ao povo e adquirissem recomendação para si; ao mesmo tempo que aprendessem a suportar a presença de todos e a falar diante de todos, para que, feitos presbíteros, quando viessem à frente a ensinar, não se confundissem pelo acanhamento, era-lhes dado lugar à leitura no púlpito. Desse modo eram promovidos gradativamente, de sorte que provassem sua diligência nos exercícios, um a um, até que se tornavam subdiáconos. Só quero dizer o seguinte: estes encargos foram mais rudimentos de noviços que funções que eram computadas entre os verdadeiros ministérios da Igreja.

João Calvino