Aqueles, pois, a quem se impusera o ofício docente, a todos esses chamavam
presbíteros. Esses presbíteros elegiam de seu número um em cada cidade a quem
davam, especialmente, o título de bispo, para que da igualdade não nascesse dissidência,
como costuma acontecer. Contudo, o bisto não era superior em honra e
dignidade num grau tal que tivesse domínio entre os colegas, mas as funções que
tem o cônsul no Senado, o qual reporta quanto aos negócios, solicita os pareceres,
preside aos outros em aconselho, admoestação, exortação, por sua autoridade rege a
toda ação e executa o que foi decretado por decisão comum, função essa que o bispo
mantinha na assembléia dos presbíteros. Os próprios antigos confessam que isso mesmo fora introduzido por consenso
humano diante da necessidade dos tempos. Assim Jerônimo, em relação à Epístola
a Tito: “O mesmo”, diz ele, “o mesmo é o presbítero que o bispo. E antes que, por
instigação do Diabo, ocorressem dissidência na religião, e entre as pessoas se dissesse:
‘Eu sou de Paulo, eu de Cefas’ [1Co 1.12], as igrejas eram governadas pelo
conselho comum dos presbíteros. Posteriormente, para que extirpassem as sementes
de dissenções, toda a solicitude foi deferida a um só. Portanto, assim como os
presbíteros sabem que, segundo o costume da Igreja, estão sujeitos àquele que
preside, assim também saibam os bispos que são superiores aos presbíteros mais
pelo costume que pela verdade da disposição do Senhor, e devem reger a Igreja em
comum com eles.” Em outro lugar, contudo, o mesmo Jerônimo ensina quão antigo
foi este instituto. Pois ele diz que em Alexandria, desde o evangelista Marcos até
Héraclas e Dionísio, os presbíteros sempre colocaram em um grau mais elevado um
eleito dentre si, a quem chamavam bispo.
Portanto, as cidades, uma a uma, tinham seu colégio de presbíteros, que eram
pastores e mestres. Ora, nem todos exerciam entre o povo o ofício de ensinar, de
exortar e de corrigir, o qual Paulo impõe aos bispos [Tt 1.9]; mas também, para que
deixassem semente após si, empenhavam-se diligentemente em instruir aos mais
jovens que se haviam alistado na sagrada milícia. A cada cidade era atribuída certa
região, a qual daí recebesse seus presbíteros e fosse como que integrada ao corpo
dessa igreja. Os colégios presbiteriais, cada um deles, como disse, meramente no
interesse de conservar-se uma boa gestão e a paz, estavam sob a direção de um
bispo, o qual aos outros de tal modo precedia em dignidade, que estivesse sujeito à
assembléia dos irmãos. Se, porém, o campo que lhe estava sob o episcopado era
amplo demais para que pudesse cumprir por toda parte a todos os deveres de bispo,
designavam-se presbíteros para certos lugares através do próprio campo, que lhe
fizessem as vezes em questões de importância menor. A esses chamavam bispos
regionais, porque representavam o bispo geral através da próprio província.
João Calvino