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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

DIGNIDADE E EXCELÊNCIA DO MINISTÉRIO DA PALAVRA NO PRÓPRIO ENSINO DA ESCRITURA

Já frisei supra que nosso Senhor exaltou a dignidade deste estado com todos os louvores possíveis, a fim de que o estimemos como uma coisa superior a todas as excelências.27 O Senhor atesta ser singular benefício prodigalizar aos homens suscitando-lhes mestres, onde ordena ao Profeta exclamar “quão formosos são os pés daqueles que anunciam a paz” [Is 52.7]; e quando chama os apóstolos “luz do mundo” e “sal da terra” [Mt 5.13,14]. Não podia adornar este ofício mais espledidamente do que quando disse: “Quem vos ouve, ouve a mim; quem vos rejeita, rejeita a mim” [Lc 10.16]. Nenhuma passagem, porém, é mais luminosa que em Paulo, na Segunda Epístola aos Coríntios, onde, de forma expressa, trata esta questão. Portanto, ele declara que na Igreja nada pode haver mais preclaro ou glorioso do que o ministério do evangelho, quando é a ministração do Espírito, da justiça e da vida eterna [2Co 3.9; 4.6]. Estas e considerações afins dizem respeito a que esse modo de a Igreja ser governada e mantida através dos ministros, que o Senhor sancionou para sempre, não deve ser entre nós menosprezado, e por fim caia em desuso pelo próprio descaso. E de fato, quão grande é sua necessidade, já o declarou não apenas por palavras, mas também por exemplos. A Cornélio, como o quisesse iluminar mais plenamente pela luz de sua verdade, enviou-lhe um anjo do céu para que a Pedro encaminhasse [At 10.3-6]. A Paulo, como o quisesse chamar ao conhecimento dele e inseri-lo na Igreja, não lhe fala com sua próprio voz, mas o envia a um homem de quem recebe não só o ensino da salvação, mas também a santificação do batismo [At 9.6, 11, 12, 17-19]. Se não acontece ao acaso que um anjo, que é o intérprete de Deus, de expor a Cornélio a vontade de Deus, se abstém ele mesmo, mas ordena que um homem seja encarregado de expô-la; que Cristo, o Mestre único dos fiéis, confia a Paulo o magistério de um homem, e esse Paulo, que havia determinado arrebatar ao terceiro céu e dignar de mirífica revelação de coisas inefáveis [2Co 12.2-4], quem ouse agora menosprezar esse ministério ou preteri-lo como sendo supérfluo, por cujo uso Deus quis que tais comprovações fossem atestadas?

João Calvino