Equanto em cada província tinha um arcebispo entre os bispos, os quais, de
igual modo, no Concílio de Nicéia foram constituídos patriarcas, que fossem superiores
aos arcebispos em ordem e dignidade, isso dizia respeito à preservação da
disciplina, se bem que nesta discussão não se pode passar em silêncio que isso era de uso mui raro. Portanto, por esta causa, mais do que tudo, foram instituídos estes
graus para que, se algo em qualquer igreja ocorresse que não pudesse ser bem dirimido
por uns poucos, fosse referido ao sínodo provincial. Se a magnitude ou dificuldade
da causa também exigisse discussão maior, eram convocados os patriarcas
juntamente com os sínodos, dos quais não haveria apelo, senão a um concílio geral.
Ao governo assim constituído alguns chamaram hierarquia, com um termo,
segundo me parece, impróprio, certamente não usado nas Escrituras. Ora, o Espírito
Santo quis prevenir que alguém sonhasse principado ou senhorio, quando se trata
do governo da Igreja. Se, porém, o termo for omitido, olhemos para o próprio fato e
acharemos que os bispos antigos não quiseram plasmar outra forma de governar-se
a Igreja fora daquela que Deus prescreveu em sua Palavra.
João Calvino