Da mesma forma que o Senhor, com a virtude e eficiência de sua vocação, guia
os eleitos à salvação, à qual os destinara por seu eterno conselho, assim tambem ele
tem seus juízos contra os réprobos, com os quais executa seu desígnio em relação a eles. Portanto, aqueles a quem criou para vileza de vida e ruína de morte, a fim de
que venham a ser instrumentos de sua ira e exemplos de sua severidade, para que
atinjam a seu fim, ora os priva da faculdade de ouvir sua palavra, ora mais os cega e
os endurece por meio de sua pregação.
Ainda que sejam inumeráveis os exemplos do primeiro membro dessa díade, no
entanto, escolhamos um só, o qual é mais evidente e notável que os demais. Aproximadamente
quatro mil anos passaram antes da vinda de Cristo, durante os quais
Deus ocultou aos povos toda a luz da doutrina salvífica. Se alguém responde que
Deus não os fez possuidores de tão grande benefício, porque os julgou indignos, em
nada mais dignos serão seus antecessores. Desta matéria, rica testemunha, e além da
experiência, é Malaquias que, condenando-lhes a encredulidade misturada a crassas
blasfêmias, no entanto anuncia que o Redentor haverá de vir [Ml 4.1, 2]. Portanto,
por que ele é dado antes a estes que àqueles? Em vão se atormenta aquele que aqui
procure causa mais alta que o conselho secreto e inescrutável de Deus. Nem é de
temer-se que algum discípulo de Porfírio corroa impunemente a justiça de Deus,
nada lhe redargüindo nós em favor. Quando, pois, asseveramos que ninguém perece
sem que o mereça, e que é graciosa benevolência de Deus que alguns se livrem da
condenação e se salvem, isto é suficiente para manter a glória de Deus, e não é
mister, segundo se diz, tergiversar-se para defendê-la das calúnias dos ímpios. Portanto,
o soberano Juiz dispõe sua predestinação quando, privando da comunicação
de sua luz a quem reprovou, os deixa em trevas.
Do outro membro, a experiência comum de cada dia e numerosos exemplos da
Escritura nos demonstram que é verdade. Perante cem pessoas praticamente se
prega o mesmo sermão: vinte o recebem com a pronta obediência da fé; os outros,
ou o consideram de nenhuma importância, ou o escarnecem, ou apupam, ou abominam.
Se alguém replica que esta diversidade procede da malícia e perversidade dos
homens, isso não será suficiente; porque a mesma malícia imperaria também no
coração dos demais, se o Senhor por sua graça e bondade não os corrigisse. Portanto,
estaremos sempre enlaçados, a menos que nos socorra essa indagação de Paulo:
“Quem te diferencia?” [1Co 4.7] – querendo dizer que, se um excede ao outro, não
se deve à sua virtude e poder, mas tão-somente à graça de Deus.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32