Então, que os papistas neguem e peçam, se podem, para que atenuem ao máximo
seus vícios, dizendo que o estado da religião entre eles não é tão corrompido e viciado como foi no reino de Israel sob Jeroboão. Com efeito, eles têm mais crassa
idolatria; nem na doutrina são sequer uma gotinha mais puros, senão que, talvez,
nesta mesma sejam até mais impuros. Deus, e mesmo todos quantos são dotados de
mediano discernimento, serão minhas testemunhas, e o próprio fato em si também o
declara, que não estou exagerando aqui.
Ora, quando nos querem constranger à comunhão de sua Igreja, duas coisas
exigem de nós: primeira, que participemos de todas suas preces, sacramentos e cerimônias;
segunda, que tudo quanto de honra, de poder, de jurisdição que Cristo
atribuiu a sua Igreja, também atribuamos nós a sua Igreja. No que tange à primeira,
confesso que todos os profetas que houve em Jerusalém, embora aí as coisas estivessem
sobremodo corruptas, não sacrificaram à parte nem tiveram reuniões separadamente
dos outros para orar. Pois tinham o mandamento de Deus, pelo qual se
lhes ordenava congregar-se no templo de Salomão [Dt 12.11-14]; também os sacerdotes
levíticos, os quais, porquanto foram pelo Senhor ordenados oficiantes das
coisas sagradas [Ex 29.9], nem ainda foram depostos, por mais que indignos fossem
dessa honra, sabiam que de direito ainda ocupavam esse lugar. Mas – e isto constitui
o ponto principal de nossa disputa – não lhes obrigavam a nenhuma superstição,
nem a fazer coisa alguma que não fosse ordenada por Deus.25
Entre estes, porém, quero dizer os papistas, que há de semelhante? Pois, dificilmente
podemos ter com eles qualquer reunião em que não nos poluamos de manifesta
idolatria. Certamente que o vínculo primordial de comunhão está em sua missa,
a qual abominamos como sendo o sacrilégio máximo. Se isso é procedente ou
improcedente, ver-se-á em outro lugar. Agora é bastante mostrar que, neste aspecto,
que nosso caso é bem diferente daquele dos profetas, os quais, embora estivessem
presentes aos ritos sacros de ímpios, não eram obrigados ou a presenciar, ou a participar
de algumas cerimônias se não eram instituídas por Deus. E, caso desejam ter
um exemplo absolutamente parecido, então o tomemos do reino de Israel. Segundo
a ordenação de Jeroboão, permanecia a circuncisão, faziam-se os sacrifícios, a lei
era considerada santa, era invocado aquele Deus que haviam recebido dos pais;
mas, em razão de formas cultuais inventadas e proibidas, tudo quanto ali se fazia
Deus reprovava e condenava [1Rs 12.26–13.5]. Que me seja dado um único Profeta,
ou algum homem piedoso, que sequer uma vez haja adorado em Betel, ou haja
feito aí um sacrifício. Pois sabiam que isto não haveriam de fazer sem que se contaminassem
com algum sacrilégio. Portanto, defendemos que a comunhão da Igreja
não deve estender-se tanto, que devamos segui-la mesmo quando degenere de seu
dever usando ritos e cultos profanos, condenados pela Palavra de Deus.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32