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quinta-feira, 18 de outubro de 2018

DA VERDADEIRA IGREJA, COM A QUAL SE NOS IMPÕE CULTIVAR A UNIDADE, PORQUANTO É MÃE DE TODOS OS PIEDOSOS

BREVE REFERÊNCIA À NECESSIDADE E FUNÇÃO DA IGREJA E AOS ASPECTOS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS NESTA EXPOSIÇÃO

No livro precedente foi exposto que pela fé no evangelho Cristo se faz nosso e nós nos tornamos participantes da salvação e da eterna bem-aventurança trazidas por ele. Mas, visto que nossa obtusidade e indolência (adiciono também a fatuidade do espírito) têm necessidade de subsídios externos com os quais a fé em nós não só seja gerada, mas também cresça e avance gradualmente até a meta, Deus adicionou também esses meios para que sustentasse nossa fraqueza. E, para que a pregação do evangelho florescesse, depôs esse tesouro com a Igreja: instituiu “pastores e mestres” [Ef 4.11], por cujos lábios ensinasse aos seus, investiu-os de autoridade, enfim, nada omitiu que contribuísse para o santo consenso da fé e a reta ordem. Acima de tudo, instituiu os sacramentos, que nós de experiência sentimos serem adjutórios mais que úteis para fomentar e firmar a fé. Ora, visto que, encerrados no cárcere de nossa carne, ainda não chegamos ao grau angélico, Deus, acomodando-se a nossa capacidade, por sua admirável providência, prescreveu um modo pelo qual, por mais longe estejamos afastados, a ele nos achegássemos. Portanto, a metodologia do ensino impõe que tratemos agora da Igreja, e seu governo, ordens, poder e, ao memso tempo, aos leitores piedosos afastemos das corrutelas com que no papismo Satanás adulterou tudo quanto Deus destinará para nossa salvação. Começarei, pois, pela Igreja, em cujo seio Deus quer que seus filhos se agreguem, não apenas para que sejam nutridos de seu labor e ministério, por tanto tempo quanto são infantes e crianças, mas também de seu cuidado materno sejam guiados até que amadureçam e, finalmente, cheguem à meta da fé. “Portanto, o que Deus ajuntou, não o separe o homem” [Mt 19.6; Mc 10.9], de sorte que àqueles de quem ele é o Pai, a Igreja também será a mãe, não apenas sob a lei, mas ainda após a vinda de Cristo, conforme o testemunho de Paulo, que ensina sermos nós filhos da nova e celestial Jerusalém [Gl 4.26].

João Calvino