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terça-feira, 30 de outubro de 2018

OS FUNDOS DA IGREJA, A PRINCÍPIO DE LIVRE APLICAÇÃO, MAIS TARDE SE DESTINARAM A QUATRO FINALIDADES DISTINTAS

No princípio, a administração dos fundos da Igreja foi livre e voluntária, quando os bispos e diáconos de si mesmos fossem fiéis, e no lugar das leis estivessem a integridade de consciência e inocência de vida. Mais tarde, como emergissem da cobiça ou esforços corruptos de uns certos maus exemplos, para corrigir esses vícios foram elaborados cânones que dividiram as rendas da Igreja em quatro partes, das quais destinaram uma aos clérigos; outra, aos pobres da Igreja; a terceira, a manter bem conservados os templos sagrados e outros edifícios; a quarta, porém, tanto a forasteiros quanto a nativos necessitados. Ora, que outros cânones atribuem esta última porção ao bispo, isso nada varia dessa divisão que referi, pois nem pretendem que lhe pertencesse, de sorte que ou ele mesmo a consumisse, ou derramasse à larga a quem bem quisesse; antes, que baste à hospitalidade que Paulo requer dessa ordem de ministros da Igreja [1Tm 3.2]. E assim interpretam Gelásio e Gregório, pois que outra razão não acrescenta Gelásio por que o bispo não reivindique para si alguma coisa, a não ser para prodigalizar aos cativos e aos peregrinos, e ainda mais claramente fala Gregório: “É costume”, diz ele, “da Sé Apostólica, uma vez ordenado o bispo, dar-lhe preceitos, de modo que de todo estipêndio que provém se façam quatro porções, a saber: uma para o bispo e sua casa em função da hospitalidade e assistência, outra para o clero, a terceira para os pobres, a quarta para a reparação dos templos.” Portanto, nada foi permitido ao bispo tomar para seu uso, senão o que fosse suficientemente para moderada e frugal alimentação e vestuário. E se alguém começava a exceder-se, ou pelo luxo, ou pela ostentação e pompa, era imediatamente reprimido pelos colegas; se não obedecesse, era privado da honra episcopal.

João Calvino