Os filósofos disputaram outrora, ansiosamente, sobre o supremo fim das boas
coisas, e até entre si contenderam, contudo, ninguém, exceto Platão, reconheceu que
o sumo bem do homem é sua união com Deus. De que natureza, porém, fosse esta
união, nem sequer tênue gosto pôde ele sentir. Nem é de admirar, uma vez que nada
aprendera do sagrado víncula dessa união. A nós, até mesmo nesta peregrinação terrena,
nos é conhecida a felicidade única e perfeita, mas a desejá-lamais e mais ela nos
acende diariamente o coração, até que nos sacie pleno usufruto. Por isso, eu disse que
dos benefícios de Cristo nenhum fruto não perceberam, senão aqueles que alçam a
ânimo à ressurreição. Assim, Paulo fixa diante dos fiéis este alvo [Fp 3.8], em relação
ao qual diz que se esforçava e tudo esquecia, até que o atinja[Fp 3.13]. Daí, também a
nós se nos impõe lutar mais dinamicamente em busca do mesmo alvo, para que não
soframos as tristes penas de nossa indolência, se o mundo aqui nos avassale. Sendo
assim, em outro lugar distingue os fiéis com esta marca: que “sua morada está nos
céus”, de onde também “esperam seu Salvador” [Fp 3.20].
E para que nesta corrida seu ânimo não desfaleça, o mesmo Paulo evoca por
companheiros a todas as criaturas [Rm 8.19]. Pois uma vez que se contemplam por
toda parte ruínas disformes, ele declara que tudo quanto há no céu e na terra luta por
sua renovação. Ora, como por sua queda Adão desfez a perfeita ordem da própria
natureza, a servidão das criaturas é molesta e grave, à qual vivem sujeitas em razão
do pecado do homem. Não que elas sejam dotadas de algum senso, mas porque
anseiam naturalmente pelo estado perfeito do qual decaíram. Portanto, Paulo lhes
atribui “gemido e dor de parto” [Rm 8.22], para que, “nós que fomos agraciados
com as primícias do Espírito” [Rm 8.23], nos envergonhemos de nos definharmos
em nossa corrupção, e nem ao menos imitarmos os elementos inermes, que sofrem
a pena do pecado alheio. Mas, para que mais agudamente nos punja, ele chama à vinda final de Cristo nossa redenção [Rm 8.23]. De fato é verdade que todas as
partes de nossa redenção já foram completadas, mas, porque Cristo foi, uma vez por
todas, oferecido pelos pecados [Hb 10.12], haverá de ser visto de novo, sem pecado,
para a salvação” [Hb 9.28]. Logo, esta última redenção deve suster-nos até o fim,
em meio a qualquer provação que nos angustia, até sua consumação.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32