Agora, pois, quando em uma assembléia sagrada tudo deva ser feito “ em ordem
e com decência” [1Co 14.40], não há nada que importe observar com mais diligência
do que o estabelecimento do governo, porquanto em coisa alguma o perigo é
maior do que quando algo é feito sem a devida ordem. Assim sendo, para que não se
introduzissem temerariamente homens inquietos e turbulentos a ensinar ou a governar,
o que de outra sorte haveria de acontecer, tomou-se precaução expressamente a
que alguém não assuma para si ofício público na Igreja sem a devida vocação. Portanto,
para que alguém seja considerado verdadeiro ministro da Igreja, primeiro
importa que tenha sido devidamente chamado [Hb 5.4]; então, que responda ao
chamado, isto é, empreenda e desempenhe as funções a si conferidas. Isto é possível
notar freqüentemente em Paulo, o qual, quando quer provar seu apostolado, quase
sempre menciona sua vocação juntamente com sua fidelidade em executar seu ofício.
Se um tão grande ministro de Cristo não ousa arrogar para si autoridade para ser
ouvido na Igreja, senão porque não só foi nisso constituído por mandado do Senhor,
mas também leva fielmente a bom termo o que lhe foi confiado, quão grande impudência
será, se qualquer dos mortais, destituído de uma ou outra destas duas credenciais,
reivindique para si uma honra desta natureza!
Mas, uma vez que já abordamos supra a necessidade de desempenhar o ofício,
tratemos agora somente da vocação.
João Calvino