Continuamos dizendo que o puro ministério da Palavra, e o puro rito na celebração
dos sacramentos, são penhor e garantia idôneos de que podemos, com segurança,
abraçar como igreja a sociedade em que subsistam um e outro; isso vale até o
ponto em que em nada deve ser rejeitada enquanto ela persistir neles, ainda que, de
outra sorte, esteja manchada de muitas falhas. E, ainda mais, poderá insinuar-se
algo de vício quer na ministração da doutrina, quer na ministração dos sacramentos,
não devemos alienar-nos de sua comunhão. Pois, nem todos os artigos da doutrina
verdadeira são de um só molde. Há certos artigos tão necessários de se conhecer
que importa sejam a todos fixos e indubitados, como os princípios próprios da religião,
quais são: que há um só Deus; que Cristo é Deus e o Filho de Deus; que a
salvação se funda na misericórdia de Deus, e semelhantes. Há outros que, controvertidos
entre as igrejas, entretanto não quebram a unidade da fé.
Ora, o que dizer de igrejas que entram em desarmonia por causa deste único
motivo, a saber, que alguém, pelo prazer de contenda, acredita que as almas migram
para os céus deixando imediatamente seus corpos, outra nem mesmo ousa definir
quanto a lugar, no entanto afirma categoricamente que elas vivem para o Senhor?
São palavras do Apóstolo: “Todos quanto somos perfeitos tenhamos o mesmo sentimento;
se algo entendeis de maneira diferente, também isto o Senhor vos haverá
de revelar” [Fp 3.15]. Porventura ele não está indicando suficientemente que o dissentimento
acerca destas coisas não deve necessariamente ser matéria de separação
entre cristãos? Indubitavelmente deve estar em primeiro plano que em todas as
coisas estejamos de acordo; mas uma vez que ninguém que não esteja envolto de
alguma nuvenzinha de ignorância, ou não admitamos nenhuma igreja, ou perdoemos
o engano nessas coisas que podem ser ignoradas sem violar a suma da religião,
e que não ponha em risto a salvação.
Aqui, porém, não gostaria de patrocinar a nenhum erro, sequer os mais diminutos,
de modo a pensar que devam ser fomentados, agindo com complacência e com
conivência. Digo, porém, que não devemos, por causa de algum pequeno desentendimento,
abandonar irrefletidamente a Igreja que guarda em sua pureza e perfeição
a doutrina principal de nossa salvação e administra os sacramentos como o Senhor
os instituiu. Entrementes, se fizermos esforços em corrigir o que desagrada, fazemo-lo
por nosso dever. E a isso se inclui a injunão de Paulo: “Mas, se a outro, que
estiver assentado, for revelada alguma coisa, cale-se o primeiro” [1Co 14.30]. Do
quê se faz evidente que a cada membro da Igreja requer-se o esforço da edificação
pública segundo a medida da sua graça, desde que decentemente e em conformidade
com a ordem, isto é, de modo que não renunciemos à comunhão da Igreja, nem
perturbemos nela a paz e a disciplina devidamente exercitada.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32