Com efeito, visto que nesta época tem havido grande disputa acerca da eficácia
do ministério, enquanto uns lhe amplificam hiperbolicamente a dignidade, outros
tentam erroneamente transferir ao homem mortal o que é próprio do Espírito, se
julgamos que os ministros e mestres penetram às mentes e corações, para que corrijam
tanto a cegueira daqueles, quanto a dureza destes, é preciso que se estabeleça a
definição correta desta controvérsia.
O que de uma e outra parte disputam, com nenhuma dificuldade, facilmente se
resolverá observando claramente as passagens onde Deus, o autor da pregação, com
ela associando seu Espírito, daí promete fruto, ou outro lado onde, separando-se dos
subsídios externos, tanto os princípios da fé quanto todo seu curso reivindica exclusivamente
para si. O ofício do segundo Elias foi, conforme o atesta Malaquias,
iluminar as mentes e “converter os corações dos pais aos filhos, e os incrédulos à
sabedoria dos justos” [Ml 4.5, 6; Lc 1.17]. Cristo declara que envia os apóstolos
para que produzam fruto de seu labor [Jo 15.16]; que fruto é esse, entretanto, Pedro
o define sucintamente, dizendo que “somos regenerados de semente incorruptível”
[1Pe 1.23]. Sendo assim, Paulo se gloria de haver gerado os coríntios através do
evangelho [1Co 4.15] e de “serem eles o selo de seu apostolado” [1Co 9.2]; ainda
mais, de que ele não era ministro da letra, que apenas percutia os ouvidos com o
sonido da voz, mas em poder [1Co 2.4; 1Ts 1.5]. Afirma ainda que os gálatas haviam
recebido o Espírito pelo ouvir da fé. Finalmente, em muitas passagens não só se
faz cooperador de Deus, mas também atribui a si a função de conferir a salvação
[1Co 3.9].
Certamente que todas estas coisas jamais levou o Apóstolo ao ponto de atribuir
a si sequer um mínimo à parte de Deus, como o expõe sucintamente em outro lugar:
“nosso trabalho no Senhor não veio a ser inútil” [1Ts 3.5], “segundo seu poder que
opera em mim poderosamente” [Cl 1.29]. Igualmente, em outro lugar: “Aquele que
operou eficazmente em Pedro para a circuncisão operou também eficazmente em mim junto aos gentios” [Gl 2.8]. Mais ainda, como aparece em outras passagens em
que não atribui coisa alguma aos ministros quando os considera em si mesmos:6
“Aquele que planta não é nada, e aquele que rega nada é; ao contrário, é Deus quem
dá o crescimento” [1Co 3.7]. De igual modo: “Trabalhei mais do que todos; não eu,
mas a graça de Deus que me assistia “[1Co 15.10]. E certamente importa reter aquelas
afirmações em que Deus, prescrevendo a si a iluminação da mente e a renovação
do coração, adverte ser sacrilégio o homem que arroga a si alguma parte de uma e
outra dessas duas operações. Entrementes, segundo a docilidade que cada um demonstre
aos ministros que Deus ordenou, reconhecerá, com efeito, com grande proveito
pessoal, que este modo de ensinar agrada a Deus não sem razão, e que não sem
motivo impôs a todos os seus fiéis este jugo de modéstia.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32