Mas, visto ser costumeiro fazer objeções a umas poucas passagens da Escritura,
nas quais Deus parece negar que, por sua ordenação, aconteça que os iníquos pereçam,
a não ser até onde, contra seu querer, eles pessoalmente engendram deliberadamente
para si a morte, explicando-as sumariamente, demonstraremos que em nada
contradizem a tese supra. A passagem de Ezequiel é trazida a lume, a qual reza que
“Deus não quer a morte do pecador, mas, antes, que se converta e viva” [Ez 33.11]. Se
agrada a Deus estender isto a todo o gênero humano, por que não induz ao arrependimento
os muitos cujo espírito é mais flexivelà obediência que o espírito daqueles que,
ante seus convites diários, mais e mais se endurecem? Junto aos habitantes de Nínive
e de Sodoma, segundo o testemunho de Cristo, a pregação do evangelho e os milagres
teriam produzido mais fruto que na Judéia. Se Deus quer que todos venham a ser
salvos, como acontece, pois, que aos míseros, que mais preparados estariam para
receber a graça, ele não abra a porta do arrependimento? Vejamos daqui quão violentamente
é torcida esta passagem, a saber, se a vontade de Deus, que o Profeta lembra,
é confrontada com seu eterno conselho, pelo qual distinguiu dos réprobos os eleitos.
Ora, se alguém indaga qual é a intenção genuína do Profeta, diremos que ele
quer propiciar a esperança de perdão somente aos que se arrependem. E esta é a síntese: não há que duvidar-se de que Deus esteja pronto a perdoar tão logo o pecador
seja convertido. De fato ele não quer sua morte, enquanto quer seu arrependimento.
A experiência, porém, assim ensina que Deus quer que aqueles que a si
convida se arrependam, mas que não toca o coração de todos. Entretanto, não se
deve dizer que por isso ele age enganosamente, porquanto, visto que só pela voz
externa torna inescusáveis os que a ouvem, contudo, não obedecem, é verdadeiramente
considerada testemunho da graça de Deus, mediante o qual ele reconcilia os
homens consigo. Tenhamos, pois, em consideração a injunção do Profeta de que a
morte do pecador não agrada a Deus, para que os piedosos confiem que, tão logo
sejam tocados de arrependimento, seu perdão está imediatamente junto a Deus; os
ímpios, porém, se deixam dobrar pelo crime, porque não respondem à tão grande
clemência e benignidade de Deus. Logo, a misericórdia de Deus vai sempre junto
com o arrependimento, mas a quem é dado o arrependimento, claramente ensinam
tanto todos os profetas, quanto os apóstolos, e o próprio Ezequiel.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32