Aliás, onde quer que este decreto divina reine, obra alguma é computada. Essa
antítese, é verdade, Paulo não a desenvolve aqui, ela, porém, deve ser subentendida
como é explicada em outro lugar por ele mesmo. “[Deus] nos chamou”, diz o Apóstolo,
“com santa vocação, não segundo nossas obras, mas segundo seu propósito e a
graça que nos foi dada por Cristo antes dos tempos eternos”[2Tm 1.9]. E já o demonstramos
nisto que segue: “para que fôssemos também irrepreensíveis” [Ef 1.4], pelo
quê toda dificuldade é removida. Podes dizer: “Visto que Deus anteviu que haveríamos
de ser santos, por isso nos elegeu” – e assim inverterás a ordem de Paulo.
Portanto, com isso podes concluir com certeza: Se ele nos elegeu para que fôssemos
santos, então não elegeu porque previa que assim o haveríamos de ser.
Ora, estas duas proposituras se conflitam entre si: que os fiéis tenham sua santidade pela eleição, e que pela santidade de suas obras tenham sido eleitos. Tampouco
é válido este subterfúgio a que recorrem com freqüência: que o Senhor dá a graça da
eleição não como pagamento por méritos prévios, contudo, a concede por méritos
futuros. Pois quando se diz que os fiéis foram eleitos para que fossem santos, ao
mesmo tempo se indica que a santidade que neles haveria tem sua origem na eleição.
Mas, como concordar que o que é o efeito da eleição veio a ser a causa da
mesma?
Além disso, o Apóstolo confirma ainda mais claramente o que havia dito, acrescentando
que Deus nos escolheu “segundo o propósito de sua vontade, que propusera
em si mesmo” [Ef 1.5-9], porque “propor Deus em si mesmo” equivale exatamente
a que se estivesse dizendo que não considerava nada fora dele que tivesse de
levar em conta em seu ato de decretar. Portanto, imediatamente acrescenta que toda
a suma de nossa eleição é que sejamos “para o louvor da graça divina” [Ef 1.6]. Por
certo que a graça de Deus, em nossa eleição, não merece ser proclamada sozinha, a
não ser que esta seja gratuita. Com efeito, esta não será gratuita, se ao eleger os seus
o próprio Deus leva em conta de que natureza as obras futuras de cada um hajam de
ser. Conseqüentemente, verifica-se valer, generalizadamente, entre todos os fiéis o
que Cristo dizia a seus discípulos: “Não fostes vós que me escolhestes; pelo contrário,
eu escolhi a vós” [Jo 15.16], onde não apenas exclui os méritos passados, mas
também deixa claro que não possuíam em si mesmos nada por que fossem eleitos,
não fora que em sua misericórdia os havia antecipado. Como também se deve entender
essa indagação de Paulo: “Ou quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja
recompensado?” [Rm 11.35]. Pois com isso Paulo quer mostrar que a bondade de
Deus de tal modo antecipa aos homens, que entre eles não acha coisa alguma, no
passado e no futuro, mercê do quê concilie com eles seu favor.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32