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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

A REJEIÇÃO DOS RÉPROBOS PROCEDE TAMBÉM DA VONTADE DIVINA, NÃO DA PRESCIÊNCIA DE SUAS OBRAS MÁS

Tratemos agora dos réprobos, de quem o Apóstolo fala também na passagem já indicada, associando, ao mesmo tempo, os eleitos [Rm 9.13]. Ora, como Jacó, sem ainda nada merecer por suas boas obras, é recebido à graça; assim também Esaú, ainda de nenhum inclinado ao delito, é tido em ódio. Se volvermos nossos olhos para as obras, fazemos grave injúria ao Apóstolo, como se ele não percebesse como algo óbvio aquilo que para nós é claro. Com efeito, que ele não percebeu é fácil de ser provado, uma vez que ele insiste expressamente, dizendo que não havia ainda nada de bom ou de mau a ser mostrado de que um é eleito e o outro rejeitado; de sorte que assim prova que o fundamento da predestinação divina não está nas obras. Além disso, quando o Apóstolo levantou a objeção se porventura Deus é iníquo, não faz uso desta objeção que lhe teria sido a mais firme e a mais evidente defesa da justiça, a saber, que Deus recompensou a Esaú segundo sua maldade; ao contrário, contentou-se com solução diversa: que os réprobos são suscitados para este fim, ou, seja, para que através deles a glória de Deus resplandeça. Finalmente, ele adiciona a cláusula: “Deus se compadece de quem quer compadecer-se e endurece a quem quer endurecer” [Rm 9.18]. Vês como o Apóstolo entrega ao mero arbítrio de Deus a um e ao outro? Portanto, se não podemos assinalar outra razão por que Deus usa de misericórdia para com os seus, a não ser porque assim lhe apraz, tampouco disporemos de outra razão por que rejeita e exclui aos demais, senão pelo uso deste mesmo beneplácito. Quando, pois, se diz ou que Deus endurece, ou cumula de misericórdia a quem quis, com isso são os homens admoestados a não buscar nenhuma outra causa que esteja fora de sua vontade.

João Calvino