Total de visualizações de página

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

DEUS NÃO É INJUSTO, NEM ARBITRÁRIO, EM VOTAR À CONDENAÇÃO A QUEM, POR SUA CORRUPÇÃO, OUTRA COISA NÃO MERECE

Em mantendo silêncio, Deus pode assim conter seus inimigos. Mas, para que não permitamos que seu sacro nome seja tido em escárnio impunemente, sua Palavra também nos provê armas contra eles. Portanto, se alguém nos acometer com palavras desta natureza: Por que Deus no início predestinou alguns à morte, os quais, como ainda não existissem, não podiam ainda ser merecedores de juízo de morte, à guisa de resposta lhes indaguemos, por nossa vez, se pensam que Deus deve algo ao homem, caso o queira estimar por sua própria natureza? Como estamos todos infeccionados pelo pecado, não podemos deixar ser odiosos a Deus, e isso não por crueldade tirânica, mas por razão de justiça mui eqüitativa. Porque, se todos são passíveis de juízo de morte, por condição natural, os que o Senhor predestina à morte, pergunto de que iniqüidade sua para consigo, se hajam de queixar-se? Venham todos os filhos de Adão; contendam e alterquem com seu Criador por que antes mesmo de serem gerados foram predestinados à perpétua miséria por sua eterna providência. Que poderão vociferar contra esta vindicação quando, em contrário, Deus os haverá de convocar ao exame de si próprios? Se de massa corrupta foram todos tomados, não é de admirar se estão sujeitos à condenação. Logo, não acusem falsamente a Deus de iniqüidade, se de seu eterno juízo foram destinados à morte, à qual são por sua própria natureza conduzidos por vontade própria, queiram ou não queiram, eles mesmos sentem. Do quê se faz evidente quão perversa é a afetação de vociferar contra Deus, porque suprimem, deliberadamente,a causa da condenação que em si são compelidos a reconhecer, para que o pretexto de Deus os livre. Com efeito, ainda que eu confesse cem vezes confesse ser Deus o autor de sua condenação – o que é mui verdadeiro –, entretanto, não se purificarão do pecado que está esculpido em suas consciências, e que a cada passo se apresenta ante seus olhos.

João Calvino