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segunda-feira, 1 de outubro de 2018

EM ISRAEL SE REGISTRA UM SEGUNDO GRAU DE ELEIÇÃO: DEUS, SOBERANAMENTE, ESCOLHENDO A UNS E REJEITANDO A OUTROS

É preciso adicionar um segundo grau mais restrito de eleição, ou na qual a graça mais especial de Deus se faz mais evidente quando, do mesmo tronco de Abraão, Deus repudiou a uns; reteve outros entre seus filhos, sustentando na Igreja. Inicialmente, Ismael alcançara dignidade para em relação a seu irmão Isaque, porquanto nele o pacto espiritual não fora menos selado com a marca da circuncisão. Ele é cortado; então é eliminado Esaú; finalmente, incontável multidão, e quase todo o Israel. A semente procede de Isaque; a mesma vocação persistiu em Jacó. Deus deu exemplo similar, rejeitando a Saul, o que também magnificamente se proclama no Salmo: “Ele rejeitou a tribode José, e não escolheu a tribo de Efraim;pelo contrário, escolheu a tribo de Judá” [Sl 78.67, 68]. A história sacra repete isso algumas vezes, para que o admirável segredo da graça de Deus se patenteie melhor nesta mudança. Reconheço que Ismael, Esaú e outros foram alijados da adoção por sua própria falha e culpa, porquanto se opuseram à condição de que cumprissem fielmente o pacto de Deus, o qual violaram perfidamente. No entanto, este foi um benefício singular de Deus, ou, seja, que se dignara preferi-los aos demais povos, como se diz no Salmo: “Ele não agiu assim com nenhuma outra nação, nem lhes manifestou seus juízos” [Sl 147.20]. Além disso, não é sem razão que eu disse que aqui se devem notar dois graus, porquanto já na eleição de todo o povo de Israel Deus mostrara em sua mera liberalidade não estar sujeito a nenhuma lei; senão que é livre e age como bem lhe agrade; de modo que por nenhum conceito se pode exigir que reparta sua graça igualmente entre todos, com isso demonstrando que ela é realmente gratuita. Por isso Malaquias acentua a ingratidão de Israel, não só que os escolheu dentre todo o gênero humano, mas ainda os separou de uma casa sagrada para que fossem sua propriedade, não obstante de forma pérfida e ímpia desprezaram a Deus, Pai tão benévolo. “Porventura, não era Esaú irmão de Jacó?”, diz o Senhor. “Contudo, amei a Jacó, porém odiei a Esaú” [Ml 1.2, 3; Rm 9.13]. Pois Deus toma por pressuposto que havendo sido ambos os irmãos gerados de um pai santo e que fossem os sucessores do pacto, por fim ramos de uma raiz sagrada, contudo, os filhos de Jacó estavam tanto mais obrigados porque foram elevados a tão alta dignidade. Quando, porém, Esaú, o primogênito, foi rejeitado, o pai destes, que por natureza era inferior, foi feito o herdeiro, prova que foram duas vezes ingratos e se queixa de que não se deixaram reter por esse duplo vínculo.

João Calvino