Que se apresente agora algum maniqueu ou celestino, caluniador da divina
providência. Com Paulo afirmo que não devemos buscar razão para ela porque, em
sua magnitude, nos supera em muito a inteligência. Por que maravilhar-se? Ou, que absurdo existe? Porventura queira que o poder de Deus seja tão limitado que não
possa engendrar algo mais da que sua mente apreenda? Com Agostinho afirmo
que foram criados pelo Senhor aqueles a quem sabia, sem dúvida, de antemão que
haveriam de ir para perdição, e que fez isto porque assim o quis. Mas, por que Deus
assim o quis não é de nossa alçada indagar a razão, a qual não podemos compreender.
Tampouco devemos discutir se a vontade de Deus é ou não justa; visto que,
sempre dela se faz menção, sob seu nome se enuncia a suprema e infalível regra de
justiça. Logo, por que lançar dúvida se haverá iniqüidade onde claramente se vê que
a justiça se faz presente? Aliás, tampouco nos envergonhemos, a exemplo de Paulo,
de assim fechar a boca dos ímprobos; e sempre que ousarem ladrar, que se repita:
“Ora, quem sois vós, míseros homens, que formulais acusação contra Deus [Rm
9.20], e acusá-lo não por outra razão, senão porque não se presta a rebaixar a grandeza
de suas obras, não as acomodando a vossa ignorância?” Como se essas obras
fossem iníquas, só porque são ocultas à carne! A imensidade dos juízos de Deus vos é
notaria por experiências claras. Sabeis que eles são chamados “abismo profundo” [Sl
36.6]. Considerai, pois, a estreiteza de vosso entendimento, se porventura ele apreenda
o que Deus em si decretou. Portanto, que proveito há, em mergulhardes, em louca
indagação, em um abismo que a própria razão dita vos haver de ser fatal? Por que vos
não coíbe ao menos algum temor, visto que tanto a história de Jó, quanto os livros
proféticos, falam da incompreensível sabedoria e do terrível poder de Deus?
Se tua mente se sente perturbada, não te acanhes em abraçar o conselho de Agostinho:
“Tu, um homem, esperas de mim uma resposta, e eu sou, também, apenas um
homem. Portanto, ouçamos ambos Aquele que diz: ‘Ó homem, quem és?’ [Rm 9.20].
Melhor é a ignorância fiel que o saber temerário. Busca méritos; não acharás, a não ser
punição: ‘Oh, profundeza!’[Rm 11.33]. Pedro nega a Cristo; ladrão crê: ‘Oh, profundeza!’
Buscas a razão? Eu me arrecearei da profundeza. Tu arrazoa, eu me maravilharei;
tu disputa, eu crerei; vejo a profundeza, ao fundo não chego. Paulo se aquietou, porque
achou admiração. Ele chama inescrutáveis os juízos de Deus, e tu vieste perscrutá-los?
Ele diz que seus caminhos são insondáveis, e tu os esquadrinhas?”346 Nada conseguiremos
em avançar adiante, pois nem isto satisfaz sua petulância, nem de outra defesa
precisa o Senhor que daquela usada por seu Espírito, que falava pela boca de Paulo, e
nós próprios desaprendemos de falar bem cessamos de falar com Deus.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32