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quarta-feira, 3 de outubro de 2018

REITERADA A IMPROCEDÊNCIA DA SEGUNDA OBJEÇÃO EM PAUTA, O HOMEM É INESCUSÁVEL NA CONDENAÇÃO A QUE É PREDESTINADO

Talvez alguém dirá que eu ainda não apresentei o que fizesse cessar esta sacrílega escusa. Eu, porém, confesso que de fato não se pode efetuar que a impiedade não frema sempre a e murmure em contrário. Contudo, quanto a mim tudo indica que já disse quanto bastasse para remover não só a razão de falar contra, mas até mesmo o mero pretexto. Os réprobos querem ser tidos como escusáveis no pecar, porque não podem evadir à necessidade de pecar, principalmente quando necessidade desta natureza lhes é imposta pela ordenança de Deus. Nós, na verdade, negamos retamente que daí haja escusa, visto que à ordenação de Deus, pela qual se queixam de ser destinados à ruína, a eqüidade lhe é manifesta, a nós de fato desconhecida, mas sendo a mesma infalível. Do quê concluímos que nada de mal eles sustém que não proceda do justíssimo juízo de Deus que lhes é infligido. Além disso, ensinamos que agem contrariamente os que, em busca da origem de sua condenação, volvem os olhos para os recônditos acessos do conselho divino, mas que fecham os olhos à corrupção de sua natureza, da qual ela realmente jorra. Entretanto, para que não imputem esta corrupção a Deus, contrapõe-se o testemunho que ele apresenta em sua criação. Ora, ainda que o homem seja criado pela eterna providência de Deus, para essa miséria a que está sujeito, no entanto a causa lhe derivou de si próprio, não de Deus, visto que ele se perdeu por nenhuma outra razão, senão porque a viciosa e impura perversidade é a perversão da pura criação de Deus.

João Calvino