“Sei”, diz Paulo, “que nenhuma coisa de si mesma comum” – tomando comum
no sentido de profano, “a não ser para aquele que a tem por comum; para esse é
comum” [Rm 14.14]. Palavras com as quais ele sujeita à nossa liberdade todas as
coisas externas, contanto que a nossas mentes a razão dessa liberdade esteja solidamente
assentada em Deus. De fato, se qualquer opinião supersticiosa nos incita o
escrúpulo, coisas que de sua própria natureza eram puras, para nós passam a ser
contaminadas. Portanto, acrescenta: “Bem-aventurado aquele que a si mesmo não
condena naquilo que aprova. Aquele, porém, que discrimina, se já comeu, é condenado,
porque não come de conformidade com a fé. Com efeito, o que não é de
conformidade com a fé é pecado” [Rm 14.22, 23].
Os que se deixam atingir por perplexidades deste molde, todavia ousam fazer qualquer coisa contra sua consciência, porventura não estão se afastando de Deus?261
Mas aqueles que se deixam afetar profundamente de algum temor de Deus, quando
até eles próprios se vêem obrigados a cometer muita coisa que se contrapõe à sua
consciência, são consternados de pavor e deitados por terra. Todos quantos agem
assim não recebem os dons de Deus com ação de graças, único modo, segundo
Paulo, de todas as coisas serem santificadas para nosso uso e serviço [1Tm 4.4, 5].
Contudo, tenho em mente a ação de graças procedente de uma alma que reconhece
a benevolência e a bondade de Deus em suas dádivas. Ora, de fato muitos deles as
entendem como sendo bênçãos de Deus das quais usam e louvam a Deus em suas
obras. No entanto, uma vez que não tenham a persuasão de que lhes foram dadas,
como dariam graças a Deus como sendo delas o doador?
Vemos, pois, em suma, qual é o propósito desta liberdade, a saber: que usemos
as dádivas de Deus para o propósito a que nos foram dadas por ele, com nenhum
escrúpulo de consciência, com nenhuma perturbação de espírito, mercê de cuja confiança
nossas almas não só tenham paz com ele, mas também reconheçam sua liberalidade
para conosco. Pois aqui estão compreendidas todas as cerimônias de espontânea
observação, para que as consciências não sejam constringidas a observálas
pelo impulso da necessidade; ao contrário, lembrem que, pela benevolência de
Deus, seu uso lhes foi concedido para edificação dos demais.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32