Seja a conclusão de tudo isso o fato de que, quando a Escritura nos recomenda
que o invoquemos como o ponto capital no culto de Deus – pois estima mais este
dever que todos os demais sacrifícios –, de nós exige este mister da piedade, é um
manifesto sacrilégio dirigir a outros a oração. Donde, também no Salmo, se diz: “se
estendemos nossas mãos para um deus estranho, porventura Deus não esquadrinhará
isso?” [Sl 44.20, 21]. Além disso, quando Deus quer ser invocado só pela fé, ele
ordena expressamente que as orações se conformem à regra de sua Palavra; finalmente,
quando a fé fundamentada na Palavra é a mão da oração correta, assim que
se desvia da Palavra, a oração necessariamente se corrompe. Com efeito, já demonstramos
que em toda a Escritura esta honra é reservada exclusivamente a Deus.
No que diz respeito à função da intercessão, também já notamos ser ela ofício
peculiar a Cristo, e que nenhuma outra oração é agradável a Deus senão aquela que
este Mediador santifica. E ainda que os fiéis mutuamente ofereçam orações diante
de Deus em favor dos irmãos, já mostramos que isso nada derroga à intercessão
única de Cristo, já que todos recomendam a Deus tanto a si mesmos, quanto aos
outros, nela igualmente se apóiam. Além disso já ensinamos que isto é nesciamente
atribuído aos mortos, aos quais jamais lemos ser ordenado que orem por nós. A
Escritura nos exorta com freqüência as obrigações mútuas deste exercício; no entanto,
dos mortos nem sequer uma sílaba. Tiago, com efeito, enfeixando estas duas
injunções, que entre nós confessemos nossos pecados e oremos uns pelos outros
[Tg 5.16], tacitamente exclui os mortos.
Conseqüentemente, é suficiente esta única razão para se condenar este erro: que
o início da oração correta provém da fé; que a fé, porém, procede de ouvir a Palavra
de Deus [Rm 10.14, 17], onde nenhuma menção se faz da fictícia intercessão dos santos, visto que a superstição engendrou para si, temerariamente, patronos que não
foram divinamente providenciados. Porque, embora na Escritura haja muitas formas
de oração, não se encontrará nela um só exemplo que confirme a intercessão dos
santos falecidos, sem a qual no papado não se tem por verdadeira e eficaz nenhuma
intercessão.289 Ademais, é evidente que esta superstição nasceu da falta de fé, porque
ou não se contentaram com Cristo como intercessor, ou o despojaram inteiramente
deste mérito. E este último ponto facilmente se prova à luz de sua impudência, porquanto
não pugnam, com outro argumento mais forte, ser-nos necessário o patrocínio
dos santos senão em objetar que somos indignos de acesso íntimo a Deus.
De fato confessamos ser isto mui verdadeiro, mas daí concluímos que eles não
fazem caso algum de Cristo, pois têm sua intercessão como algo de nenhum valor,
se não a acompanham com a de São Jorge, a de São Hipólito e a de outros espantalhos
semelhantes.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32