Do termo galardão não há por que concluamos que nossas obras sejam a causa
de nossa salvação. De princípio, que isto seja solidamente estabelecido em nosso
coração: o reino dos céus não é estipêndio de servos, mas herança de filhos [Gl 4.7],
da qual só se assenhorearão aqueles que forem pelo Senhor adotados por filhos, não
por qualquer outra causa, mas em razão desta adoção. “Pois o herdeiro não será o
filho da escrava, mas, sim, o filho da livre” [Gl 4.30]. E, com efeito, nessas próprias
passagens em que o Espírito Santo promete que a glória eterna haverá de ser um
galardão às obras, chamá-la expressamente herança, mostra que ela nos provém de
outra parte. Assim, quando chama os eleitos à sua posse, Cristo enumera as obras
que recompensa com a remuneração do céu, mas, ao mesmo tempo, acrescenta que
se possuirá por direito de herança [Mt 25.34-37]. Assim, Paulo prescreve aos servos
que executarem fielmente o que lhes é da obrigação e esperam recompensa da parte
do Senhor, porém adiciona que é uma recompensa de herança [Cl 3.24]. Vemos,
pois, como Cristo e seus apóstolos se precavêem muito bem para não atribuirmos às
obras a bem-aventurança eterna, e, sim, à adoção divina.249
Entretanto, por que, ao mesmo tempo, fazem menção das obras? Com um só
exemplo da Escritura se elucidará esta questão. Antes do nascimento de Isaque fora
prometida descendência a Abraão, na qual haveriam de ser abençoadas todas as
nações da terra, a propagação de uma descendência que se haveria de igualar às
estrelas do céu, às areias do mar e outras coisas semelhantes. Muitos anos depois,
como fora ordenado pelo oráculo, Abraão se cinge para imolar o filho [Gn 22.3].
Tendo-se desincumbido desta obediência, ele recebe a promessa: “Jurei por mim
mesmo, diz o Senhor, porquanto fizeste isto, e não poupaste a teu próprio filho
unigênito, te abençoarei, e multiplicarei tua descendência como as estrelas do céu e
as areias do mar; tua descendência possuirá as portas de seus inimigos, e em tua
descendência serão abençoadas todas as nações da terra, porque obedeceste à minha
voz” [Gn 22.16-18]. Que estamos ouvindo? Porventura Abraão mereceu a bênção por sua obediência, cuja promessa recebera antes que lhe fosse feita a injunção? De
fato sustentamos aqui, sem rodeios, que o Senhor galardoa as obras dos fiéis com
estas bênçãos que já lhes foram dadas antes que as obras fossem cogitadas, enquanto
não vê nenhuma causa por que lhes fizesse beneficência, exceto sua misericórdia.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32