E aqui haverá de ser útil observar, de passagem, que estas formas de expressão
são distintas das promessas da lei. Chamo “promessas da lei”não aquelas que estão
esparsas por toda parte nos livros mosaicos, uma vez que neles ocorrem também
muitas promessas evangélicas, mas aquelas que dizem respeito propriamente ao
ministério da lei. Promessas desta modalidade, seja qual for o nome que apraza
chamar, enunciam que foi preparada recompensa sob a condição: “Se fizeres o que
te é prescrito.” Quando, porém, se diz que “o Senhor guarda o pacto de misericórdia
para com aqueles que o amam” [Dt 7.9; 1Rs 8.23; Ne 1.5], está demonstrando mais
quais são seus servos que, de boa fé, sustentaram sua aliança, do que a expressar a
razão por que o Senhor age bondosamente para com eles.
E a razão que o demonstra é que, como o Senhor tem por bem chamar-nos à
esperança da vida eterna a fim de ser amado, temido e honrado, igualmente todas as
promessas de sua misericórdia que se encontram na Escritura se dirigem evidente mente a este fim: que reverenciemos e honremos a quem tanto bem nos faz.239 Portanto,
sempre que ouvimos que ele faz bem aos que observam sua lei, lembremo-nos
de que são filhos de Deus aqueles que são designados em função do dever que neles
deve ser perpétuo, e por esta razão fomos adotados: para que o veneremos como
nosso Pai. Conseqüentemente, para que nós mesmos não abdiquemos de nosso direito
de adoção, faz-se necessário que lutemos sempre na direção para a qual tende
nossa vocação.
Contudo, novamente sustentemos que o cumprimento da misericórdia do Senhor
não depende das obras dos fiéis; ao contrário, que ele próprio por isso cumpre
a promessa de salvação para com aqueles que lhe responde à vocação em retidão de
vida, porque, afinal, ele reconhece as marcas genuínas de filhos naqueles que ao
bem são dirigidos por seu Espírito. A isto se refere o que está no Salmo acerca dos
cidadãos da Igreja: “Senhor, quem habitará em teu tabernáculo e quem descansará
em teu santo monte?” [Sl 15.1]. “O inocente de mãos e limpo de coração” etc. [Sl
24.4]. De igual modo, em Isaías: “Quem habitará com o fogo devorador? Aquele
que faz justiça, que fala o que é reto” etc. [Is 33.14, 15]. Ora, não se descreve aqui o
fundamento em que os fiéis se mantêm diante do Senhor, mas a maneira pela qual o
Pai clementíssimo os introduz a seu consórcio e nele os guarda e firma. Pois, visto
que detesta o pecado e ama a justiça, Deus purifica por intermédio de seu Espírito
aqueles que une a si, para que os faça conformes a si próprio e a seu reino.
Portanto, se a causa primeira for buscada donde aos santos se abra acesso ao
reino de Deus, donde tenham como nele manter-se firmes sempre, pronta é a resposta:
porque, em sua misericórdia, o Senhor não somente os adotou de uma vez por
todas, mas também os guarda perpetuamente. Se, porém, a questão é quanto à maneira,
então é preciso descer à regeneração e seus frutos, os quais se enumeram
nesse Salmo.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32