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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

PRIMEIRA PETIÇÃO: “SANTIFICADO SEJA TEU NOME”

A primeira petição é que o nome de Deus seja santificado [Mt 6.9], necessidade que deveria trazer-nos grande vergonha. Pois, que há de mais indigno do que nossa ingratidão, em parte, tolde a glória de Deus, em parte nossa malignidade, quanto possa em si ofuscá-la nossa petulância e furioso despudoramento? Ainda que com sua sacrílega devassidão todos os ímpios tentem destruí-la, não obstante resplandece a santidade do nome de Deus. Não é sem causa que o Profeta exclama: “Segundo é teu nome, ó Deus, assim teu louvor, até os confins da terra” [Sl 48.10]. Ora, onde quer que Deus se haja conhecido, não pode ocorrer que não se manifestem suas virtudes, poder, bondade, sabedoria, justiça, misericórdia, verdade, que não incitem nossa admiração e não nos arrebatem à celebração de seu louvor. Portanto, uma vez que de forma tão ultrajante sua santidade é subtraída da terra, não conseguimos mantê-la como convém, se nos manda que pelo menos tenhamos o cuidado de rogar a Deus que a mantenha. A síntese desta petição consiste em que ansiemos por que seja dada a Deus sua honra, da qual é digno, de sorte que os homens nunca falem ou pensem dele senão com reverência; ao que se opõe a profanação que no mundo foi sempre sobremaneira comum, como grassa ainda hoje. E daqui a necessidade desta petição, a qual seria supérflua se entre nós não vigorasse ao menos modesta piedade. Porque, se o nome de Deus se revestir de santidade, exaltado e glorificado como convém, quando é separado de todos os demais nomes e respira perfeita glória, aqui se nos ordena não apenas pedir que Deus defenda esse sacro nome de todo desprezo e ignomínia, como também que todo o gênero humano se sujeite à sua reverência.
Ora, visto que Deus se nos manifeste, em parte, em seu ensino, em parte por meio de suas obras, ele não é santificado por nós de outro modo senão se em ambos esses aspectos lhe atribuamos o que é seu, e assim abracemos tudo quanto dele procede. Tampouco seu louvor em nossos lábios obtêm menos sua severidade que sua clemência, quando na diversidade multifária das obras ele esculpiu marcas de sua glória, aptas a forçar todas as línguas, com razão, a que expressem a confissão de louvor. Assim acontecerá que a Escritura terá entre nós justa autoridade, não que qualquer evento impeça que se bendiga oque Deus merece em todo o curso do governo do mundo. Em contrapartida, esta petição também se propõe a que pereça e seja aniquilada toda impiedade que macula este santo nome, tudo quanto tolde esta santificação, ou o diminue, quer injúrias ou zombarias, para longe se vão, e, enquanto Deus reprime todos os sacrilégios, daqui mais e mais lhe resplenda a majestade.

João Calvino