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sábado, 22 de setembro de 2018

O CRISTO RESSURRETO, ASSUNTO AO CÉU E GLORIFICADO É NOSSO ÚNICO INTERCESSOR JUNTO AO PAI

Convém também observar com diligência a circunstância de tempo quando Cristo ordena a seus discípulos que se refugiassem em sua intercessão depois que subisse ao céu. “Naquela hora”, diz ele, “pedireis em meu nome” [Jo 16.26]. Certo é que, de fato, desde o início a ninguém se ouviu orar senão pela graça do Mediador. Por esta razão, na lei Deus estabelecera não só que o sacerdote, ao ingressar-se no santuário, levasse nos ombros os nomes das tribos de Israel e igual número de pedras preciosas no peito, mas também o povo se postasse à distância no átrio e daí unissem suas súplicas ao sacerdote. Mais ainda: os mesmos sacrifícios serviam também para ratificar e confirmar as orações. Portanto, aquela cerimônia e figura da lei ensinaram que todos nós estamos alienados da face de Deus, e por isso se faz necessário um mediador que compareça em nosso nome, e nos carregue nos ombros, e nos sustenha ligados a seu peito, de sorte que sejamos ouvidos em sua pessoa; além disso, que pela aspersão de sangue as orações são purificadas, as quais, lemos, jamais são, de outra maneira, isentas de imundícies. E lemos que os santos, quando desejavam obter algo, fundamentavam sua esperança nos sacrifícios, porque sabiam que eles eram os penhores de todas as súplicas. “Lembre-se”, diz Davi, “de todas as tuas ofertas, e aceite teus holocaustos” [Sl 20.3]. Daqui se conclui que desde o inicio Deus foi aplacado pela intercessão de Cristo, para que acolhesse as súplicas dos piedosos. Por que, pois, Cristo assinala um momento novo no qual os discípulos começarão a orar em seu nome, senão porque esta graça, visto ser hoje mais luminosa, e muito mais digna de ser enaltecida? E neste mesmo sentido dissera, pouco antes: “Até agora não pediste algo em meu nome; pedi ...” [Jo 16.24]. Não significa que nada compreendessem do oficio do Mediador, quando destes rudimentos todos os judeus eram imbuídos, mas porque ainda não haviam compreendido claramente que, por sua ascensão ao céu, Cristo haveria de ser mais infalível patronoda Igreja do que fora antes. Portanto, para que, com algum fruto não vulgar, console a dor de sua ausência, a si vindica o ofício de advogado e ensina que até então eles estiveram privados do principal benefício do qual lhes será dado usufruir quando, arrimados em seu patrocínio, haverão de invocar a Deus mais livremente, como diz o Apóstolo: “Pelo novo e vivo caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, por sua carne” [Hb 10.20]. Por isso, menos escusável é nossa depravação, salvo se, como dizem, abraçarmos com ambos os braços tão inestimável benefício que nos foi destinado diretamente a nós.

João Calvino