Convém também observar com diligência a circunstância de tempo quando Cristo
ordena a seus discípulos que se refugiassem em sua intercessão depois que subisse
ao céu. “Naquela hora”, diz ele, “pedireis em meu nome” [Jo 16.26]. Certo é que, de
fato, desde o início a ninguém se ouviu orar senão pela graça do Mediador. Por esta razão, na lei Deus estabelecera não só que o sacerdote, ao ingressar-se no santuário,
levasse nos ombros os nomes das tribos de Israel e igual número de pedras preciosas
no peito, mas também o povo se postasse à distância no átrio e daí unissem suas
súplicas ao sacerdote. Mais ainda: os mesmos sacrifícios serviam também para ratificar
e confirmar as orações. Portanto, aquela cerimônia e figura da lei ensinaram
que todos nós estamos alienados da face de Deus, e por isso se faz necessário um
mediador que compareça em nosso nome, e nos carregue nos ombros, e nos sustenha
ligados a seu peito, de sorte que sejamos ouvidos em sua pessoa; além disso,
que pela aspersão de sangue as orações são purificadas, as quais, lemos, jamais são, de
outra maneira, isentas de imundícies. E lemos que os santos, quando desejavam obter
algo, fundamentavam sua esperança nos sacrifícios, porque sabiam que eles eram os
penhores de todas as súplicas. “Lembre-se”, diz Davi, “de todas as tuas ofertas, e
aceite teus holocaustos” [Sl 20.3]. Daqui se conclui que desde o inicio Deus foi aplacado
pela intercessão de Cristo, para que acolhesse as súplicas dos piedosos.
Por que, pois, Cristo assinala um momento novo no qual os discípulos começarão
a orar em seu nome, senão porque esta graça, visto ser hoje mais luminosa, e muito
mais digna de ser enaltecida? E neste mesmo sentido dissera, pouco antes: “Até agora
não pediste algo em meu nome; pedi ...” [Jo 16.24]. Não significa que nada compreendessem
do oficio do Mediador, quando destes rudimentos todos os judeus eram imbuídos,
mas porque ainda não haviam compreendido claramente que, por sua ascensão
ao céu, Cristo haveria de ser mais infalível patronoda Igreja do que fora antes. Portanto,
para que, com algum fruto não vulgar, console a dor de sua ausência, a si vindica
o ofício de advogado e ensina que até então eles estiveram privados do principal
benefício do qual lhes será dado usufruir quando, arrimados em seu patrocínio, haverão
de invocar a Deus mais livremente, como diz o Apóstolo: “Pelo novo e vivo
caminho que ele nos consagrou, pelo véu, isto é, por sua carne” [Hb 10.20]. Por
isso, menos escusável é nossa depravação, salvo se, como dizem, abraçarmos com
ambos os braços tão inestimável benefício que nos foi destinado diretamente a nós.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32