Total de visualizações de página

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

MOTIVOS E MOMENTOS DETERMINADOS PARA A ORAÇÃO REGULAR

Mas, ainda que já dissemos previamente que, elevado o coração a Deus, é preciso suspirar sempre e orar sem intermissão, visto que, no entanto, tamanha é nossa fraqueza que tenha necessidade de ser sustentada por muitos esforços; que tamanha é nossa inércia, que tenha necessidade de ser excitada de aguilhões; que convém que a cada um de nós sejam fixadas horas especiais para esse empreendimento, horas que não transcorram sem oração e que tenham nisto inteiramente ocupadas todas as disposições da alma, a saber: quando de manhã nos levantamos, antes que nos atiremos ao labor diário, quando nos assentamos à refeição, quando pela bênção de Deus fomos nutridos, quando nos recolhemos ao repouso. Contanto que esta observância de horas não seja supersticiosa, nas quais, como se quitando nossa obrigação a Deus, tudo fosse como se nos desobrigássemos em relação às demais horas; mas, ao contrário, constitui a disciplina de nossa fraqueza, pela qual deve ser assim exercitada e continuamente estimulada. Deve-se revestir de especial solicitude sempre que nos virmos premidos por alguma angústia particular, ou vermos outros serem premidos, então recorrendo a ele imediatamente, não ligeiros de pés, mas de ânimo. Então, quanto possível, não deixemos passar indiferente, seja nossa prosperidade, seja a de outros, sem que atestemos e reconheçamos aí sua mão, com louvor e ação de graças. Por fim, deve se observar em toda oração que não queremos obrigar Deus a certas circunstâncias, nem prescrever-lhe em que tempo, em que lugar, por qual forma haverá ele de fazer alguma coisa, assim como nesta oração somos ensinados a não fixar-lhe nenhuma lei, ou impor-lhe nenhuma condição; pelo contrário, devemos deixar a seu arbítrio que faça o que haverá de fazer em qual forma, em qual tempo, em qual lugar lhe parecer bem. Em vista disso, antes de formularmos a nosso favor qualquer oração, proferimos de antemão que seja feita sua vontade [Mt 6.10], onde já sujeitamos à sua vontade a nossa, para que, exatamente como se fosse contida por um freio, não presuma compelir a Deus à sua ordem; ao contrário disso, que o constitua árbitro e moderador de todos seus votos.

João Calvino