Há também outras passagens não discordantes às acima referidas em que alguém
ainda pode fazer finca-pé. Diz Salomão que “aquele que anda em sua integridade
é justo” [Pv 20.7]. De igual modo: “Na trilha da justiça está a vida, e nela, com
efeito, não está a morte” [Pv 12.28]. Por essa razão, Ezequiel vaticina que “aquele
que praticar juízo e justiça haverá, de fato, de viver” [Ez 18.9]. Nada destas coisas
negamos nem obscurecemos. Apresente-se, porém, um só que seja, dentre os filhos
de Adão, com integridade como tal. Se ninguém há, importa que ou escapem da
vista de Deus, ou se acolham ao refúgio de sua misericórdia.
Tampouco negamos que a integridade que os fiéis possuem, ainda que parcial e
imperfeita, lhes sirva de respaldo para alcançar a imortalidade.248 Mas, donde provém
isso senão do fato de que aqueles a quem o Senhor recebeu ao pacto da graça,
ele não perscruta suas obras segundo seus méritos; antes, as abraça com paternabenignidade? Com isso entendemos não simplesmente o que ensinam os escolastas:
as obras têm seu valor da graça aceitante, pois são de parecer que as obras, de outra
sorte, seriam insuficientes para a obtenção da salvação em conformidade com o
pacto da lei, são elevadas ao mérito de equivalência, contudo em virtude da aceitação
divina. Eu, porém, digo que essas obras, tisnadas tanto de outras transgressões,
quanto de suas próprias manchas, outro valor não têm senão porque o Senhor a
umas e outras confere perdão, o que significa prodigalizar ao homem justiça gratuita.
Aqui não se impingem intencionalmente aquelas preces do Apóstolo nas quais
se deseja aos fiéis tão grande perfeição, para que sejam inculpáveis e irrepreensíveis
no dia do Senhor [1Co 1.8; 1Ts 3.13; 5.23]. De fato, outrora, os seguidores de
Celéstio insistiram muito nestas palavras no afã de reivindicar perfeição de justiça
nesta vida. Mas, seguindo Agostinho, respondemos em termos breves o que julgamos
ser bastante, a saber, a esta meta, na verdade, devem aspirar todos os piedosos:
que um dia possam comparecer imaculados e inculpáveis perante a face de Deus.
Mas, uma vez que a melhor e mais excelente expressão da presente vida outra coisa
não é senão uma escalada progressiva, a essa meta haveremos de então, finalmente,
chegar, quando, despojados desta carne de pecado, ao Senhor nos unirmos plenamente.
Contudo, não litigarei com pertinácia com aquele que aos santos queira atribuir
o título de perfeição, desde que também a defina nas palavras do próprio Agostinho:
“Quando”, diz ele, “chamamos perfeita a virtude dos santos, à própria perfeição
pertence também o reconhecimento da imperfeição não só na verdade, mas
também na humildade.”
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32