Acrescenta-se que ele está nos céus. Daqui não se deve raciocinar precipitadamente
que ele está limitado à circunferência do céu, como se estivesse recluso e
circunscrito em um recinto reservado. Pois que também Salomão confessa que os
céus dos céus não o podem conter [1Rs 8.27]. E ele mesmo, por intermédio do
Profeta, diz que o céu é seu trono, mas a terra é o estrado de seus pés [Is 66.1; At
7.49]; obviamente, querendo dizer com isso que não se confina a alguma região
determinada; ao contrário, ele está difundido em tudo. Contudo, visto que, dada a
sua obtusidade, nossa mente não podia, de outra sorte, conceber sua inenarrável
glória, ela nos foi designada pelo termo céu, do que nada mais augusto ou mais
pleno de majestade nos pode vir à contemplação. Enquanto, pois, onde quer que
nossos sentidos apreendem qualquer coisa, aí costumam fixá-la, Deus é posto além
de todo e qualquer lugar; de sorte que, quando queremos buscá-lo, somos elevados
acima de todo sentido do corpo e da alma. Então, com esta forma de expressão, ele
é elevado acima de toda possibilidade de corrupção ou mudança. Finalmente, denota-se
que ele abraça e sustêm todo o mundo e com seu poder o rege. Portanto, isto é
exatamente como se ele fosse definido como se fosse de magnitude ou sublimidade
infinita, de essência incompreensível, de poder imenso, de imortalidade eterna. Quando,
porém, ouvimos isto, nosso pensamento deve elevar-nos mais alto, uma vez que
está a tratar-se de Deus; tampouco o imaginemos como fosse terreno ou carnal, nem
o meçamos por nossas acanhadas medidas, nem conformemos sua vontade a nossos
afetos. Ao mesmo tempo, a confiança nele deve cobrar-nos ânimo, de cuja providência
e poder entendemos serem governados céu e terra.
A conclusão, pois, é que sob o termo Pai se nos propõe aquele Deus que em
Cristo nos apareceu em sua própria imagem, para que seja invocado por uma fé
inabalável; tampouco o termo familiar Pai é só para engendrar confiança, mas também
vale para que as mentes sejam sustentadas, a fim de que não sejam arrastadas a
deuses duvidosos ou fictícios; ao contrário, que do Filho Unigênito se elevem ao
único Pai dos anjos e da Igreja. Em segundo lugar, visto que seu trono está estabelecido nos céus, se nos adverte que, já que ele governa o mundo, de forma alguma nos
aproximaremos dele em vão, já que espontaneamente se apresenta e oferece a nós. O Apóstolo afirma que, “é necessário que aquele que se aproxima Deus creia
que ele existe, e que é o galardoador dos que o buscam” [Hb 11.6]. Cristo, neste
lugar, atribui ambas essas coisas a seu Pai, para que nossa fé se assente nele; então,
que estejamos firmemente persuadidos de que nossa salvação não é negligenciada
por ele, já que se digna até mesmo de estender-nos sua providência. Com rudimentos
como esses, Paulo nos prepara para que oremos corretamente, pois antes que
prescreva que nossas petições se façam conhecidas diante de Deus, ele prefacia a
imposição nestes termos: “Seja vossa eqüidade notória a todos os homens; perto
está o Senhor” [Fp 4.5, 6]. Do quê se faz claro que suas petições revolvem em sua
mente, hesitante e confusamente, os que não têm isto firmemente estabelecido: “Os
olhos de Deus estão sobre os justos” [Sl 34.15; 1Pe 3.12].
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32