A ORAÇÃO, COROLÁRIO ABSOLUTO E SEQÜELA NECESSÁRIA DA FÉ
Destas coisas que foram discutidas até este ponto percebemos não obscuramente
quão carente e vazio de todas as coisas boas é o homem e como lhe faltam todos os
recursos de salvação. Portanto, se ele busca meios pelos quais socorra a sua carência,
lhe é necessário que saia fora de si mesmo e os obtenha em outra parte para si.
Também já demonstramos que o Senhor voluntária e liberalmente se nos revela em
Cristo, no qual nos oferece a felicidade em vez da miséria e toda classe de riquezas em
vez de pobreza; em quem nos abre os tesouros celestes, para que toda nossa fé contemple
o Filho amado, toda nossa expectação dependa dele, toda nossa esperança se
apegue a ele e repouse nele. Esta é, deveras, uma filosofia secreta e estranha e que não
se pode desvendar pelo uso de silogismos. Mas de fato a aprendem integralmente
aqueles a quem Deus abriu os olhos para que em sua luz vejam a luz [Sl 36.9].
Aliás, depois que fomos ensinados pela fé a reconhecer que tudo quanto nos é
necessário e nos falta, isso está em Deus e em nosso Senhor Jesus Cristo, em quem
de fato quis o Pai que residisse toda a plenitude de sua liberalidade [Jo 1.16; Cl
1.19], para que daí, como de uma fonte inesgotável, todos bebamos, resta que nele
busquemos e dele, em súplicas, peçamos o que aprendemos nele residir. De outra
sorte, conhecer a Deus como Senhor e administrador de todas as coisas boas. Que
nos convida que lhas peçamos, contudo não ir a ele nem pedir propriamente com
base em nosso proveito pessoal, como se uma pessoa não fizesse caso e desejasse
que fosse enterrado e escondido sob a terra um tesouro que lhe foi revelado. Conseqüentemente, para mostrar que da invocação divina a verdadeira fé não
pode estar ociosa, o Apóstolo estabeleceu esta ordem: assim como a fé é nascida do
evangelho, assim através de nosso coração se afeiçoa por ela a invocar o nome de
Deus [Rm 10.14-17]. E isto mesmo é o que havia dito um pouco antes: o Espírito de
adoção, que sela o testemunho do evangelho em nossos corações, alça nossos espíritos
a que ousem expor seus desejos a Deus, suscitar gemidos inexprimíveis, clamar
com confiança: “Abba, Pai” [Rm 8.15, 16, 26]. Portanto, convém agora tratar mais extensivamente este último ponto, porquanto foi referido antes apenas de passagem
e abordado como que superficialmente.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32