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sábado, 22 de setembro de 2018

O EXERCÍCIO DA LIBERDADE CRISTÃ VISA AO AMOR AO PRÓXIMO; TODAVIA, ESSE AMOR NÃO DEVE SER EXERCIDO EM VIOLAÇÃO DA PUREZA DA FÉ

Não obstante, tudo que tenho ensinado quanto a se evitarem os tropeços, meu intuito é que se refira a coisas intermédias e indiferentes, pois as que são obrigatórias não podem ser omitidas por mais que o escândalo seja perigoso. Ora, da mesma forma que a liberdade deva estar sujeita à caridade, assim também a própria caridade, por sua vez, deve subordinar-se à pureza da fé. Por certo que também aqui importa levar em consideração a caridade, mas inclusive os altares, isto é, que não ofendamos a Deus em atenção ao próximo. Não se pode aprovar o desenfreamento daqueles que nada fazem, senão criar tumulto, e que preferem romper tudo à força a solucionar de forma suasória. Nem tampouco merecem ouvidos aqueles que, depois que com mil formas de impiedade se apresentam como líderes, fingem que lhes é necessário agir assim para não escandalizar a seus irmãos. Como se já não estivessem dando exemplo à consciência de seu próximo, especialmente quando no mesmo lodaçal estão sempre chafurdados, sem nenhuma esperança de saída. E quando se trata de instruir o próximo, seja por meio da doutrina, seja por meio do exemplo de vida, dizem que se deve alimentar de leite ao mesmo a quem imbuem de opiniões péssimas e funestas. Paulo relembra que alimentara os coríntios, dando-lhes leite a beber [1Co 3.2]. Mas então, se entre eles existisse a missa papal, porventura ele teria celebrado esse sacrifício a fim de dar-lhes a beber leite? De modo algum, pois leite não é veneno. Portanto, mentem que estão a alimentar aqueles a quem matam cruelmente sob a aparência de afagos. E ainda que concedamos que dissimulação desse gênero se deva aprovar para o momento, até quando darão a beber do mesmo leite a seus filhos? Porque, se nunca crescem o suficiente para suportar algum alimento leve, se vê claramente que jamais foram sustentados com leite. Há duas razões que me impedem de no momento contender com tais pessoas com mais objetividade: primeiro porque seus absurdos não merecem que sejam refutados, quando entre todos os sadios de entendimento sejam com razão desprezados; segundo, visto que em escritos especiais tenho apresentado isto sobejamente, não desejo repetir o que já foi feito. Que os leitores simplesmente tenham como certo que com qualquer classe de escândalos que Satanás e o mundo procurem afastar-nos do que Deus nos manda, ou retardar-nos para que não sigamos o que ele prescreve, contudo, é imprescindível prosseguir incansavelmente. Então, seja qual for o perigo, não nos é lícito apartar-nos dos mandamentos de Deus; nem, sob qualquer pretexto, é lícito tentar alguma coisa, a não ser o que ele permite.

João Calvino