É verdade que algumas vezes parece que os santos alegam sua própria justiça
como auxílio a fim de alcançar mais facilmente de Deus o que pedem; como quando Davi diz: “Guarda minha alma, porque sou bom” [Sl 86.2]; igualmente, Ezequias:
“Rogo-te que te lembres, ó Senhor, de que tenho andado diante de ti em verdade, e
tenho feito o bema teus olhos” [2Rs 20.3; Is 38.3]; com tais fórmulas de expressão,
nada mais significamsenão que da própria regeneração se comprova que são servos e
filhos de Deus, aos quais ele próprio promete haver de ser propício. Ele ensina através
de seu Profeta, como já notamos, que “seus olhos estão sobre os justos; seus ouvidos
estão voltados para suas preces” [Sl 34.15]. Novamente, através do Apóstolo: “que
tudo quanto pedirmos receberemos, se guardarmos seus mandamentos” [1Jo 3.22].
Com estas afirmações ele não está anexando à oração o valor do mérito das obras; ao
contrário, ele quer assim firmar a confiança daqueles que estão devidamente cônscios
de integridade e inocência não fingidas, que devem estar presentes em todos os fiéis.
Ora, de fato, da própria verdade de Deus foi tomado o que em João diz o cego
cuja visão fora restaurada, que “os pecadores não são ouvidos por Deus” [Jo 9.31],
se entendermos por pecadores apenas segundo os termos próprios da Escritura:
todos aqueles que dormitam e descansam em seus pecados sem anseio de justiça,
uma vez que nenhum coração jamais prorromperá em sincera invocação de Deus
que, ao mesmo tempo, não aspire à piedade. Portanto, as súplicas dos santos respondem
a tais promessas, nas quais fazem menção de sua purezaou inocência, para que
sintam manifestar-se-lhes o que deve ser esperado de todos os servos de Deus. Além
disso, são então achados fazendo uso ordinariamente deste gênero de prece, quando
diante do Senhor se comparam com seus inimigos, de cuja iniqüidade desejavam
ser protegidos por sua mão. Com efeito, nesta comparação não é de admirar se
trouxeram a lume sua própria justiça e candura de coração, a fim de mover a Deus a
que à vista da eqüidade e justiça de sua causa, os socorresse. Não arrebatemos, pois, do coração piedoso o que é bom: que usufrua, diante do
Senhor, da consciência de sua pureza, a fim de firmar-se nas promessas com as
quais o Senhor consola e sustém a seus verdadeiros cultores; ao contrário, queremos
que, descartada a cogitação do mérito pessoal, a confiança de obter o que se suplica
nas preces se apóie na mera clemência de Deus.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32