Há outros que, enquanto querem remediar a este mal, pouco falta a que não
prescrevam que seja sepultada toda e qualquer menção da predestinação. De fato,
ensinam que se deve fugir a toda e qualquer questão relativa a ela, não de outra
forma senão como de algo perigoso, dos quais ainda que, com razão, se deva louvar
a moderação, porquanto julgam com tão grande sobriedade que se devem reverenciar
os mistérios, no entanto visto que descem a um nível demasiadamente baixo,
pouco avançam em relação ao entendimento humano, que não se deixa facilmente
ser embargado. Portanto, para que também neste aspecto mantenhamos o legítimo
limite, é preciso retornar à Palavra do Senhor, na qual temos segura regra à compreensão.
Pois a Escritura é a escola do Espírito Santo, na qual não se deixa de pôr
coisa alguma necessária e útil de se conhecer, nem tampouco se ensina nada mais
além do que se precisa saber.
Portanto, tudo quanto na Escritura se dá a conhecer acerca da predestinação, é
preciso cuidar para que disso não privemos os fiéis, a fim de que não pareçamos ou
maldosamente defraudá-los da benevolência de seu Deus, ou acusar e escarnecer o
Espírito por haver divulgado essas coisas que seria proveitoso fossem suprimidas e
mantidas em segredo. Insisto que devemos permitir ao homem cristão abrir a mente
e os ouvidos a todas as palavras de Deus que lhe são dirigidas, desde que se faça
com esta moderação: que assim que o Senhor haja fechado sua santa boca, também
fecha ele atrás de si o caminho à especulação. Aqui está o melhor limite da sobriedade:
que ao aprendermos sigamos a Deus, deixando que ele fale primeiro; e se o
Senhor deixa de falar, tampouco nós queiramos saber mais, nem avançar mais um
passo. Tampouco é de tão grande relevância o fato de que temem perigo de que com
isso desviemos a mente dos oráculos de Deus. Célebre é o dito de Salomão: “Glória
de Deus está nas coisas encobertas” [Pv 25.2]. Como, porém, não só a piedade, mas
também o senso comum, ditem que isto não se entende de toda e qualquer coisa
indiscriminadamente, cabe-nos buscar uma distinção, para que não tenhamos prazer
na ignorância bruta sob o pretexto de modéstia e sobriedade. Com efeito, esta distinção é expressa em mui breves palavras por Moisés: “As coisas encobertas”,
diz ele, “pertencem ao Senhor nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem a nós
e a nossos filhos para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei” [Dt
29.29]. Vemos, pois, como ele exorta a seu povo a que se aplique ao estudo da lei,
porque a Deus aprouve promulgá-la, mas ao mesmo povo, por esta mera razão, ele
contém nestes limites: que não é lícito aos mortais ingerir-se nas coisas secretas de
Deus.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32