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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

AS ORAÇÕES PÚBLICAS DEMANDAM TEMPLOS E SANTUÁRIOS, NÃO PORQUE SEJAM POR ISSO EXCLUSIVOS E PARTICULARMENTE SAGRADOS, JÁ QUE NOSSO CORPO É O TEMPLO REAL DO ESPÍRITO, E DEUS NÃO OUVE APENAS AS ORAÇÕES NELES FEITAS

Ora, como Deus, por meio de sua Palavra, ordena aos fiéis orações em comum, assim também importa que haja templos públicos destinados a seus exercícios, onde os recusam acatar a ordem, associar-se em oração com o povo de Deus, não há razão por que abusem do pretexto de que se acolhem ao quarto a orar, para que assim obedeçam ao mandamento do Senhor. Pois Aquele que promete que ele haverá de fazer tudo quanto pedirem dois ou três, congregados em seu nome [Mt 18.19, 20], comprova que de modo algum deixa de fazer caso de orações formuladas em público, desde que a ostentação e a busca aferrada de mesquinha glória humana sejam alijadas,e desde que se faça presente a sincera e verdadeira afeição que habita no íntimo do coração. Se este é o uso legitimo dos templos, como certamente é, então por outro lado deve acautelar-se que não pensemos, como passou a acontecer durante alguns séculos, ou que eles são a própria habitação de Deus, de onde nos incline bem mais os ouvidos, ou imaginemos que, por alguma secreta santidade, torne mais sagrada a oração diante de Deus. Ora, uma vez que nós mesmos somos os verdadeiros templos de Deus, se queremos invocar a Deus em seu santo templo, então se faz necessário que oremos dentro de nós mesmos. Não obstante, que deixemos para os judeus ou gentios essa opinião carnal, nós que temos o preceito de invocar o Senhor “em espírito e verdade” [Jo 4.23], sem distinção de lugar. De fato, por mandado de Deus outrora fora dedicado o templo para nele se oferecessem orações e sacrifícios; mas, nesse tempo a verdade jazia velada, representada sob tais sombras, a qual nos é agora expressa ao vivo, o que não admite que nos apeguemos a algum templo material. E, com efeito, tampouco o templo foi confiado aos judeus com a condição de que, dentro de suas paredes, se encerrasse a presença de Deus; ao contrário, para que fossem exercitados a contemplar a figura do templo genuíno. Portanto, os que, de algum modo, pensavam que Deus habita em templos feitos por mãos humanas foram seriamente repreendidos por Isaías e Estêvão [Is 66.1; At 7.48, 49].

João Calvino