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segunda-feira, 24 de setembro de 2018

AS ORAÇÕES PÚBLICAS DEVEM SER INTELIGÍVEIS; PORTANTO, NA LÍNGUA FALADA PELO POVO

Daqui, fica também inteiramente claro que as orações públicas devem ser formuladas não em grego entre os latinos, nem em latim entre os franceses ou ingleses, como até aqui se tem feito a cada passo, mas na linguagem popular, para que as mesmas sejam generalizadamente entendidas por toda a assembléia, uma vez que, na verdade, é indispensável que isso seja feito para edificação de toda a Igreja, à qual, absolutamente, nenhum fruto advém além de um som não compreensível. Esses, de fato, entre os quais nenhuma consideração há nem de caridade, nem de humanidade, deviam ser movidos um mínimo sequer, ao menos pela autoridade de Paulo, cujas palavras estão mui longe de ser ambíguas. “De outra maneira”, diz ele, “se bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto o amém, sobre tua ação de graças? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é edificado” [1Co 14.16, 17]. Quem, pois, ficará surpreso ante a desenfreada licenciosidade que predomina entre os papistas, os quais, contra a manifesta proibição do Apóstolo não temem cantar em língua estranha o que nem sequer eles mesmos muitas vezes entendem? Mas, o que devemos realmente fazer, Paulo o prescreve: “Que farei, pois?”, diz ele, “orarei com o Espírito, orarei também com o entendimento; salmodiarei com o Espírito, salmodiarei também com o entendimento” [1Co 14.15]. Com o termo Espírito ele tem em mente o singular dom de línguas, dotados do qual alguns abusavam, quando o separam da mente, isto é, do entendimento. Concluamos, pois, que é impossível, em se tratando da oração pública ou privada, que a língua sem o coração não desagrade a Deus sobremaneira;298 além disso, a mente deve ser incitada com veemência com o que pensa e ir muito mais longe supere do que tudo o que a língua pode exprimir verbalmente; finalmente, que de fato a língua não é necessária à oração particular, a não ser até onde o entendimento é insuficiente para elevar-se por si próprio, ou com a veemência da incitação force a língua a falar. Ora, embora as melhores orações às vezes necessitem da palavra, contudo, amiúde, quando o afeto do coração está muito aceso, a língua se solta e igualmente os demais membros; e isto sem pretensão alguma, mas espontaneamente. Obviamente, daí esse sussurrar indefinido de Ana [1Sm 1.13], cujo certo símile os santos experimentam em si constantemente, quando prorrompem em palavras abruptas e entrecortadas. Entretanto, observam-se costumeiramente expressões do corpo no orar, a saber, genuflexão e descobrir a cabeça, são exercícios mercê dos quais tentamos alçar-nos a maior veneração de Deus.

João Calvino