Daqui, fica também inteiramente claro que as orações públicas devem ser formuladas
não em grego entre os latinos, nem em latim entre os franceses ou ingleses,
como até aqui se tem feito a cada passo, mas na linguagem popular, para que as
mesmas sejam generalizadamente entendidas por toda a assembléia, uma vez que,
na verdade, é indispensável que isso seja feito para edificação de toda a Igreja, à
qual, absolutamente, nenhum fruto advém além de um som não compreensível. Esses,
de fato, entre os quais nenhuma consideração há nem de caridade, nem de humanidade, deviam ser movidos um mínimo sequer, ao menos pela autoridade de
Paulo, cujas palavras estão mui longe de ser ambíguas. “De outra maneira”, diz ele,
“se bendisseres com o espírito, como dirá o que ocupa o lugar de indouto o amém,
sobre tua ação de graças? Porque realmente tu dás bem as graças, mas o outro não é
edificado” [1Co 14.16, 17].
Quem, pois, ficará surpreso ante a desenfreada licenciosidade que predomina
entre os papistas, os quais, contra a manifesta proibição do Apóstolo não temem
cantar em língua estranha o que nem sequer eles mesmos muitas vezes entendem? Mas, o que devemos realmente fazer, Paulo o prescreve: “Que farei, pois?”, diz ele,
“orarei com o Espírito, orarei também com o entendimento; salmodiarei com o Espírito,
salmodiarei também com o entendimento” [1Co 14.15]. Com o termo Espírito
ele tem em mente o singular dom de línguas, dotados do qual alguns abusavam,
quando o separam da mente, isto é, do entendimento. Concluamos, pois, que é impossível,
em se tratando da oração pública ou privada, que a língua sem o coração
não desagrade a Deus sobremaneira;298 além disso, a mente deve ser incitada com
veemência com o que pensa e ir muito mais longe supere do que tudo o que a língua
pode exprimir verbalmente; finalmente, que de fato a língua não é necessária à
oração particular, a não ser até onde o entendimento é insuficiente para elevar-se
por si próprio, ou com a veemência da incitação force a língua a falar. Ora, embora
as melhores orações às vezes necessitem da palavra, contudo, amiúde, quando o
afeto do coração está muito aceso, a língua se solta e igualmente os demais membros;
e isto sem pretensão alguma, mas espontaneamente. Obviamente, daí esse
sussurrar indefinido de Ana [1Sm 1.13], cujo certo símile os santos experimentam
em si constantemente, quando prorrompem em palavras abruptas e entrecortadas.
Entretanto, observam-se costumeiramente expressões do corpo no orar, a saber,
genuflexão e descobrir a cabeça, são exercícios mercê dos quais tentamos alçar-nos
a maior veneração de Deus.
João Calvino
Escola Bíblica Conhecedores da verdade - O objetivo deste blog e levar você a conhecer a verdade que liberta de todo o Engano. Nesses últimos tempos, muito se tem ouvido falar do evangelho de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, porém de maneira distorcida e muitas vezes pervertida, com heresias disfarçada etc. “ ...e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.” João 8.32