Total de visualizações de página

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

A CONFISSÃO PESSOAL FEITA ÀQUELES A QUEM TENHAMOS OFENDIDO OU CONTRA QUEM TENHAMOS PECADO

Da outra modalidade de confissão particular, porém, Cristo fala em Mateus [5.23, 24]: “Se trouxeres tua oferta ao altar e aí te lembrares que teu irmão tem algo contra ti, deixa ali tua oferta e volta, e vai primeiro reconciliar-te com teu irmão, e então, voltando, apresenta tua oferta.” Pois assim se impõe restaurar o amor que porventura foi quebrantado por nossa falta: reconhecendo a falta que cometemos e implorando para ela o perdão. Sob esta modalidade se compreende a confissão daqueles que pecaram ofendendo a Igreja inteira. Ora, se Cristo considera ser de tanta gravidade a ofensa particular de um homem, que barre dos ritos sacros a todos quantos porventura tenham cometido alguma falta contra irmãos, até que tenham retornado ao favor em virtude da justa satisfação, quanto maior é a razão para que aquele que ofendeu a Igreja com algum mau exemplo a reconcilie consigo mediante o reconhecimento da culpa? Por isso, como aquele coríntio se mostrasse obediente à correção, ele foi readmitido de volta à comunhão da Igreja [2Co 2.6, 7]. Além do mais, esta foi a forma de se confessar na Igreja antiga, como também Cipriano64 o relembra: “Fazem penitência”, diz ele, “pelo tempo justo, então vêm à confissãoe, mediante a imposição de mãos do bispo e do clero, recebem o direito de comunhão.” A Escritura desconhece absolutamente outra maneira ou forma de se confessar, nem nos é necessário acorrentar de novos grilhões as consciências as quais Cristo proíbe mui severamente sejam reconduzidas à servidão.
Entrementes, que as ovelhas recorram ao pastor sempre que quiserem participar da Santa Ceia, de modo algum reclamo, senão que gostaria sumamente que se observe isto por toda parte. Pois daí não só podem extrair singular proveito os que têm a consciência carregada, mas também os que precisam ser admoestados para que assim propiciem ensejo às admoestações, desde que estejam sempre ausentes a tirania e a superstição.

João Calvino