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segunda-feira, 3 de setembro de 2018

NEM JOÃO BATISTA, NEM TIAGO ENDOSSAM A CONFISSÃO ROMANISTA

Agora se lançam a um embate mais direto, enquanto lutam, segundo a si parecem, com declarações expressas da Escritura: aqueles que vinham ao batismo de João confessavam seus pecados [Mt 3.6], e Tiago [15.16] quer que confessemos os pecados uns aos outros. Não é de admirar se os que desejavam ser batizados por João confessassem seus pecados. Ora, eu disse anteriormente que João havia “pregado o batismo do arrependimento” [Mc 1.4], isto é, havia batizado com água para arrependimento. Logo, a quem teria ele batizado senão aqueles que confessassem ser pecadores? O batismo é o símbolo da remissão de pecados, e quem deveria ser admitido a este símbolo senão pecadores e os que se reconhecessem como tais? Confessavam, portanto, seus pecados para que fossem batizados. Não é sem razão que Tiago preceitua que nos confessemos uns aos outros. Com efeito, se atentassem para o que imediatamente se segue, compreenderiam que também isso lhes traria pouco respaldo. “Confessai”, diz ele, “vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros” [Tg 5.16]. E assim juntam a confissão mútua e a oração recíproca. Se a confissão fosse somente aos sacerdotes, então somente por eles se deve orar. Mais ainda: se seguiria das palavras de Tiago que ninguém mais deveria confessar senão os sacerdotes. Ora, de fato, enquanto quer que nos confessemos mutuamente, ele fala somente aos que podem ouvir a confissão dos outros. Allh,loij [Allélois], diz ele: mutuamente, alternativamente, cada um por sua vez, ou, se preferem, reciprocamente. Não podem, porém, confessar-se reciprocamente, senão os que são idôneos para ouvir confissões. Uma vez que somente aos sacerdotes dignam desta prerrogativa, também somente a eles relegamos nós o ofício de confessar-se. Portanto, que sejam alijadas tolices desse gênero e acolhamos o próprio sentido do Apóstolo, que é simples e manifesto, a saber, que, de parte a parte, deponhamos nossas fraquezas um no seio do outro, a fim de recebermos entre nós mútuo conselho, mútua compaixão, mútua consolação. Então, visto que somos mutuamente cônscios das fraquezas fraternas, oremos por elas ao Senhor. Por que, pois, citam Tiago contra nós, que insistentemente insistimos na confissão da misericórdia de Deus? Mas, ninguém pode confessar a misericórdia de Deus, a não ser que antes tenha confessado sua própria miséria. Antes, pelo contrário, pronunciamos ser anátema todo aquele que não se confessar pecador diante de Deus, diante de seus anjos, diante da Igreja, enfim, diante de todos os homens. “Pois o Senhor encerrou tudo debaixo do pecado” [Gl 3.22], “para que toda carne feche a boca e se humilhe diante de Deus, mas que somente ele seja justificado e exaltado” [Rm 3.4, 9, 19].

João Calvino