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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

AGOSTINHO TESTIFICA QUE AS BOAS OBRAS NÃO SÃO MOTIVO PARA A AUTOGLORIFICAÇÃO OU CONFIANÇA JACTANCIOSA

Vemos agora que não há nos santos esta confiança nas obras que ou lhes atribua algo ao mérito, visto que as vêem não de outra maneira senão como dons de Deus, donde reconhecem sua bondade, não de outra maneira senão como sinais de sua vocação, a qual serve para recordar sua eleição, ou que tire algo de sua graciosa justiça que alcançamos em Cristo, já que depende dela, nem subsiste sem ela. Isto mesmo expressa Agostinho, em poucas palavras, porém primorosamente, quando escreve: “Não digo ao Senhor: ‘Não desprezes as obras de minhas mãos’ [Sl 138.8]; ‘Com minhas mãos busquei o Senhor e não fui ludibriado’ [Sl 77.2]. Mas não enalteço as obras de minhas mãos não, pois temo que, quando as tiveres examinado, mais pecados encontres que méritos. Só digo isto, só rogo isto, só desejo isto: Não desprezes as obras de tuas mãos. Vê em mim tua obra, não a minha. Porque, se olhares para a minha, a condenas; se contemplares a tua, a coroas. Por isso, todas as obras boas que tenho procedem de ti.”213 Aqui Agostinho apresenta duas razões por que não ousou ostentar suas obras diante de Deus: primeiro, porque, se tem algo de boas obras, aí de seu ele nada vê; segundo, porque isso é também ofuscado pela multidão de seus pecados. Do quê resulta que daí a consciência sente mais de temor e consternação do que de segurança. Por isso, ele não quer que Deus olhe de outra forma para suas obras feitas em retidão, mas para, reconhecendo nelas a graça de sua vocação, aperfeiçoe a obra que começou.

João Calvino